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Jackson Alves, da Seguradora Zurich

Jackson Alves, da Seguradora Zurich

Para esta edição da “Bastidores da TI”, conversei com Jackson Alves, executivo de TI da Seguradora Zurich, cujo relato me trouxe muita satisfação pela lição de vida que representa. Vindo de um bairro pobre da zona sul da capital paulista, aos 13 anos Jackson ganhou da mãe um curso de Informática e, encantado com o conteúdo e as possibilidades que poderiam se abrir a partir daí, resolveu ele próprio ser um multiplicador para que seus vizinhos e amigos também pudessem ter acesso a novas oportunidades.

Assim nasceu a AFAI – Associação Frei Airton de Inclusão, da qual ele foi fundador e que ao longo dos dez anos de existência formou cerca de dois mil jovens de três bairros da periferia da capital. Hoje, Jackson trabalha na Seguradora Zurich como Global Cloud Engagement Head reportando diretamente para a empresa na Suíça.

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Multiplicador de conhecimento

Aos 13 anos, Jackson Alves ganhou da mãe um curso de informática. “Ela sabia que aquele conhecimento poderia fazer a diferença para o meu futuro”, conta. Ele morava no Zona Sul de São Paulo, bairro na periferia da capital paulista, e pensando nos vizinhos, seus amigos, que não teriam acesso àquele tipo de conteúdo resolveu, ele mesmo, virar um multiplicador. Desta história nasceu a AFAI – Associação Frei Airton de Inclusão, com o objetivo de promover o acesso à Informática para as comunidades da zona sul da cidade.

A ideia foi crescendo e a associação recebeu doações de empresas como Banco Safra, Itautec e Real e, ao longo de 10 anos, cerca de dois mil jovens passaram pelos núcleos da AFAI que a esta altura já somavam outras duas unidades em bairros vizinhos. Ele próprio ganhou uma bolsa de estudos da Itautec e continuou passando o conhecimento adiante.

“Meu foco era treinar pessoas que viravam multiplicadores e assim chegamos a este número”, diz, em uma história que mistura a sua própria com a de outros jovens que graças à sua iniciativa puderam iniciar seu futuro na área de TI. E Jackson contou que um dia chegou às suas mãos um currículo onde o candidato citava a AFAI como parte de sua formação. “Fiquei emocionado”. E a AFAI foi mais longe, as famílias destes jovens passaram a receber outras formações como corte e costura, montagem e manutenção de computadores, que significava uma importante fonte de renda extra para todos.

Em 2004, com pouco mais de 20 anos, Jackson começou a trabalhar na Syngenta, empresa de tecnologia para o agronegócio, na área de Business Intelligence. Como fruto de seu conhecimento sobre o SAP BW, três anos depois recebeu um convite inesperado para ir trabalhar na sede da empresa, na Suíça.  Um sonho! Mas junto com ele vieram também problemas. “O meu inglês eu tinha aprendido na comunidade. Eu tinha aula na igreja anglicana e, em seguida, ficava para a celebração da missa para tentar entender o que o padre falava”.

Jackson conta que no início não conseguia sequer pedir comida e dá risada. Mas lembra que cerca de quatro a cinco meses depois já se sentia mais à vontade com o idioma.  Perguntei a ele como foi a receptividade a um estrangeiro que não dominava o inglês e ele contou que como todos da equipe eram seniores acharam interessante ter alguém mais jovem e de uma outra cultura. “Ou pode ser que eu não entendesse as críticas”, brinca.

Três anos depois, por razões pessoais, Jackson pediu demissão e voltou para o Brasil.  Nesta época ele era funcionário da Syngenta suíça e não tinha como ser transferido de volta. Mas quando chegou surgiu uma oportunidade de trabalhar na própria Syngenta do Brasil com Laís Machado, que era a CIO, dentro do grupo de BI, aproveitando a experiência que tinha na área.  “A Laís foi incrível para o meu desenvolvimento”, diz. Em seguida foi para a Monsanto trabalhar com outra CIO mulher que ele destaca também como uma de suas mentoras, a Renata Marques, que um tempo depois foi para a ABB – Asea Brown Boveri e o convidou para ir com ela.

Convite aceito, Jackson lembra ter sido a primeira vez que saiu do universo de Business Intelligence e na empresa passou a cuidar do suporte de todos os módulos do Sistema SAP como head da área. “Fizemos toda a localização e este foi um trabalho incrível como gestor”.  Ele e Renata montaram uma equipe de cerca de 40 pessoas, “alguns com maior conhecimento do que eu e, inclusive, mais bem remunerados. Neste processo descobri minha capacidade de gestão de pessoas”, completa.

Quando a sede da ABB se mudou para um lugar distante de onde morava, Jackson disse que optou por garantir o tempo com a família, ele tem 3 filhos entre 4 e 14 anos. Foi quando surgiu a oportunidade de ir para a Zurich onde, em 2015, assumiu como Superintendente de Dados, Infraestrutura e Sistemas Financeiros, sendo responsável pela implementação do módulo SAP FSCD, voltado à área de seguros, tendo sido reconhecido pela própria SAP como a melhor implementação deste módulo em menor espaço de tempo e com menor custo em toda a América Latina.

O processamento dos dados a ser enviado para o banco teve seu tempo reduzido das antigas 8 a 10 horas para menos de uma hora e enquanto o sistema anterior processava 15 mil despesas/dia, o novo processa 80 mil no mesmo período.  Jackson diz que a grande questão foi convencer o board sobre o que valia e o que não valia a pena customizar no processo. Seu princípio foi: vamos manter simples e aproveitar o que é standard.

A Zurich foi fundada na Suíça em 1872 e hoje atua em mais de 200 países com cerca de 56 mil funcionários. A empresa está no Brasil desde 1984. Jackson comenta que sempre busca se movimentar na carreira até como uma forma de abrir espaço para que pessoas da equipe possam subir de patamar.  Neste movimento, em 2021 ele foi mais uma vez chamado para trabalhar na matriz da empresa, na Suíça, como Global Head Cloud Engagement, sendo responsável pelo engajamento de todas as unidades de negócios da empresa mundialmente na estratégia de Cloud, bem como discutir modelos de serviços e implementação. Com uma grande diferença, desta vez a partir do Brasil, numa função remota que só eventualmente requer algum tipo de viagem.

O movimento de contratação de gestores alocados em países que não o da sede da empresa é hoje em dia algo comum na área de TI. Jackson diz que nesta função, que assumiu há um ano, uma das habilidades que percebeu necessária é uma comunicação mais flexível uma vez que é comum encontrar resistência com relação a alguém que não está lá, “in loco”. Mas destaca que o brasileiro é resiliente, e esta é uma característica importante. E lembra de uma proposta feita a um líder nos Estados Unidos e que foi negada por cinco vezes, até que na sexta sua resiliência e capacidade de convencimento funcionaram e foi aceita como sendo a melhor opção.

*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.

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