Inovação como peça-chave no tratamento do câncer
Depois de ocupar por dois ano e meio a cadeira de CIO do A.C. Camargo Cancer Center, referência em ensino pesquisa, diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil, Rodrigo Gosling assumiu, há cerca de um ano, a superintendência de Inovação e Transformação Digital (TD) da instituição, uma área nova que se reporta diretamente à presidência e aborda a inovação não só sob a perspectiva de tecnologia, mas de linhas de negócios.
O A.C. Camargo Cancer Center tem 70 anos e é um dos mais importantes e tradicionais centros de oncologia no país, com o maior biobanco de tumores em toda a América Latina. Segundo Gosling, a inovação sempre esteve no DNA da organização e a criação de uma área executiva dedicada a este propósito mostra isso.
Em 2022, por exemplo, a instituição atingiu a marca de 4 mil cirurgias robóticas oncológicas realizadas. Este movimento, iniciado em 2013, consolida o A.C. Camargo como o maior centro especializado nesse tipo de procedimento na América Latina.
De acordo com a instituição, com o avanço da medicina nas últimas décadas a área está cada vez mais baseada em tecnologia. Seja em um dispositivo médico com IOT embarcado ou com a utilização de Inteligência Artificial como sistema de suporte à decisão clínica. E a transformação digital é realidade e já permeia o cotidiano.
A direção destaca que criar uma área dedicada à inovação e transformação digital é um movimento mais que natural para uma instituição como o A.C. Camargo, que trabalha com o que há de mais moderno no tratamento e diagnóstico do câncer. Na prática, a área liderada por Gosling trabalha em parceria com o setor de tecnologia, gerencia e desenvolve os novos projetos de inovação e transformação digital e o dia a dia fica nas mãos de Tecnologia.
O novo sistema de monitoramento remoto de pacientes, por exemplo, foi desenvolvido e implementado pela área do novo superintendente e, uma vez validado, foi passado para responsabilidade da equipe de Tecnologia, assim como as questões de segurança da informação, entre outros. Gossling explica que a nova área tem o propósito de criar uma visão de futuro capaz de planejar e executar projetos sem que eles concorram com o que já está em execução no cotidiano da instituição.
Uma das questões que ganhou mais espaço com a nova estrutura foi o debate sobre startups. Prova disso foi a criação do hub de inovação em oncologia, que será inaugurado este ano, e vai atuar com startups focadas no tema. Outro acelerador de pesquisas no A.C. Camargo foi a aquisição de um supercomputador, no final de 2021, usado para o estudo de hipóteses, buscando reduzir tempo de resposta dos estudos em andamento.
Curiosamente, o A.C. Camargo é o primeiro trabalho de Gosling na área de saúde. Sua carreira percorreu setores variados como consultoria (Accenture), telecomunicações (Nextel), mídia (Editora Globo) e comércio varejista (Via Varejo). O executivo conta que a missão do hospital e seu propósito foram os fatores que o aproximaram da instituição, além de acreditar que a pluralidade de indústrias pelas quais passou compõe e agrega com a visão do paciente em uma jornada de longo prazo trazida de outros segmentos.
“E na oncologia, a relação com o paciente é de longo prazo”, enfatiza. Pela grande especialização do A.C. Camargo, eu quis saber de Rodrigo quais são as referências do hospital, inclusive para sua trajetória de inovação. Ele falou sobre uma grande troca de informações com outros Cancer Centers no mundo como John Hopkins, em Baltimore; o Memorial Hospital, em Nova York; Princess Margaret Cancer Center, no Canadá, entre outros que também trabalham as vertentes: Assistencial, Diagnóstico, Ensino e Pesquisa, além de outros hospitais no entorno.
E disse que a troca na área de estudos é muito viva em oncologia e na saúde de uma maneira geral, diferente de outras indústrias: “a troca de informação em prol do paciente”, reforça. Rodrigo destacou que o câncer é uma doença que não é só do paciente, é uma doença social, é da família, dos amigos, “quando olhamos isso de uma forma mais abrangente já é um caminho importante para ajudar no tratamento”, destaca.
Diante de tudo isso, o executivo aponta a inovação como alavanca para melhorar os diagnósticos de câncer e a efetividade de tratamento com soluções como inteligência artificial, que possam verificar indícios nos exames que são críticos no tratamento. Olhando para o futuro, o executivo destaca que a inovação passa pela parte de prevenção, antecipação de diagnóstico, além do próprio tratamento.
Entre as missões da área, Rodrigo comenta sobre como colher mais informações do paciente via soluções de monitoramento remoto de questões como efeitos adversos de medicamentos e indicadores para se criar uma curva de evolução, contando também com soluções de análise de imagens e de autosserviço, como agendamento realizado pelo próprio paciente ou familiar.
Para o futuro, Rodrigo aponta projetos em três linhas de atuação: a jornada do paciente, a jornada do médico e a jornada do colaborador. Do lado do colaborador, os objetivos passam pela digitalização e a disseminação da cultura analítica na instituição. Do ponto de vista do paciente, a ideia é melhorar sua experiência de relacionamento com a instituição, tanto com relação ao acompanhamento do tratamento em si quanto ao que diz respeito ao autosserviço.
Com relação ao médico, além das ferramentas implantadas recentemente, como o prontuário eletrônico e novas soluções para gestão de imagens e de exames, o propósito é facilitar a relação do médico de forma mais abrangente, tanto com o paciente como com a instituição. Todas as iniciativas englobam inovação, tecnologia, o RH e a diretoria médica.
Rodrigo reforça que a inovação sempre esteve no DNA do A.C. Camargo e a criação de uma área executiva dedicada à Inovação e Transformação Digital mostra esta preocupação de olhar para o futuro, saindo das atividades do dia a dia.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.