Paixão precoce por tecnologia
Depois de me contar a história de sua entrada na área, ainda adolescente, Ricardo Miranda, CIO e CTO da Santos Brasil, disse que se apaixonou por tecnologia por conta das transformações que ela pode promover. E assim tem sido em sua caminhada multisetorial e multinegócios. Nos 18 anos na Pirelli, onde explica que o produto era o mesmo, pneu, mas cada modelo com características bem diferentes, fez carreira partindo de analista até chegar a diretor e ter cadeira no board.
Depois, Ricardo atuou na Accenture e em seguida assumiu a tecnologia da Suzano Papel e Celulose, onde teve seu primeiro contato com a área florestal e do agronegócio. “Tecnologia entre quatro paredes é uma coisa, no campo é outra.” Na empresa iniciou a digitalização do processo florestal, área para a qual a tecnologia disponível ainda era incipiente, e aplicou TI também para integrar floresta e fábrica.
O passo seguinte foi na indústria farmacêutica Cimed, onde o esperava um outro tipo de processo fabril com um forte fator de regulamentação. Na Deloitte, onde esteve por seis anos, assumiu um papel diferente, no back office, com o desafio de transformar a empresa internamente e oferecer a melhor experiência ao funcionário por meio da tecnologia, de forma a aprimorar cada vez mais o atendimento aos clientes.
Ricardo comenta que todas as empresas pelas quais passou eram multinegócios, então não havia o “one size fits all”, assim como não acontece também na Santos Brasil, empresa que atua na área de operações portuárias e logística integrada ao porto de Santos, em São Paulo, onde os terminais são diferentes, os centros de distribuição são diferentes e assim por diante…
Mas diz que a diversidade de empresas e a variedade de negócios em cada uma delas o ajudaram e, continuam contribuindo para sua atuação profissional, que a chave é ter paixão pelo negócio. “Sempre tive o olhar de como a tecnologia poderia tocar as pessoas, a cadeia, o processo produtivo e o negócio.”
Ricardo está há cerca de um ano na Santos Brasil. A empresa foi criada em 1997 para operar o Tecon Santos, o maior terminal de contêineres da América do Sul e movimenta 18% do total de contêineres de todo o país, tem o principal terminal de importação e exportação de veículos do País e é responsável pelo gerenciamento de entrada e saída de produtos tão diversos quanto automóveis e líquidos, incluindo combustíveis, além de produtos como livros e vinhos, entre outros.
A operação, que envolve um total de 3,1 mil funcionários, começa com o transporte do contêiner do mar para a terra, abertura do contêiner, desembaraço, separação das mercadorias e transporte em uma operação que inclui tanto o B2B quanto o B2C e envolve transportadoras próprias, de terceiros e dos próprios clientes, dentro de um conceito que vai do porto ao e-commerce, passando por centros de distribuição, tudo isso em um ambiente super controlado em termos de acesso e que funciona 24×7 todos os dias do ano. “E quem gerencia toda essa fluidez é a tecnologia”, afirma Ricardo. A empresa está listada na bolsa e tem como controlador o Banco Opportunity.
O executivo conta que teve uma grata surpresa com o nível de digitalização do setor logístico portuário, que além de ser altamente regulamentado reúne uma quantidade enorme de players como despachantes, seguradoras, Receita Federal, transportadoras e outros que têm que estar conectados e integrados.
E o que a gestão de Ricardo está realizando é potencializar toda a parte de analytics, com big data e modelos preditivos focando na inteligência baseada em dados, internos e externos, na direção do data driven management. O outro foco é a hiperautomação. Neste segundo ponto está em curso um projeto que prevê a operação totalmente remota de um equipamento que movimenta os contêineres, que deve entrar em operação no próximo ano. Atualmente estão sendo compradas as máquinas.
De acordo com Ricardo, o processo vai beneficiar o operador que poderá sair de um ambiente hostil, a cabine da máquina, para um local mais agradável, com conforto e sociabilização. “Temos a preocupação com a experiência do funcionário”, diz ele, mas reconhece que toda nova tecnologia traz um pouco de desconforto com a mudança de um cenário conhecido para um desconhecido. Como resolver esta questão? Ricardo defende a comunicação, treinamento e ressaltar o motivo da mudança e os benefícios que irá causar.
Entre as dores, Ricardo aponta as de mercado, como a escassez de mão de obra qualificada e a falta de produtos como processadores, fundamentais em equipamentos com tecnologia embarcada, que é o caso dos utilizados pela empresa. E há também as dores específicas do setor como os desafios de montar uma arquitetura nova considerando o que hoje está disponível em tecnologia, assim como os limites do ambiente onde a Santos Brasil atua tais como conectividade onde o porto está instalado, a própria velocidade, o ritmo do porto e outras questões como a necessidade de sempre estar no ar e com latência mínima dado o tipo de operação.
Segundo ele, a questão está em criar esta arquitetura dentro deste contexto, considerando ainda os diversos players, e atingir o pleno funcionamento de tudo. Por fim, destaca que a maturidade de uma empresa pode ser medida em quanto ela conta e se apoia no digital e na tecnologia.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.