Abrindo a caixa preta
Antes de conversar com Marcelo Hirata, diretor de TI do IRB – Instituto de Resseguros do Brasil, outro amigo conquistado nas andanças por esta área, fui buscar entender melhor o que faz uma resseguradora ao que ele me respondeu de forma simples e esclarecedora: somos a seguradora das seguradoras. E deu como exemplo o seguro de uma plataforma de petróleo, onde a seguradora, sozinha, não teria fôlego.
“Há uma divisão dos riscos e o compartilhamento do reembolso, quando este for o caso”. A resseguradora, de certa forma, respalda o negócio. Em 2008, a área de resseguros deixou de ser um monopólio do estado no Brasil e empresas estrangeiras tiveram acesso ao mercado. Até então o IRB era a única empresa do setor.
O IPO da companhia aconteceu em 2017, quando Marcelo entrou na empresa, e hoje o IRB tem como acionistas majoritários os bancos Bradesco e Itaú. E, por incrível que possa parecer, tendo em vista o comando destes bancos e o estágio da automação bancária no país, a TI do IRB era vista pelas demais áreas como uma grande caixa preta. Pela perspectiva da equipe de TI, a visão era de que tudo que era demandado era entregue.
Marcelo conta que todo o trabalho era baseado no conceito waterfall, ou cascata, na tradução para o português, conceito tradicional de organização de projetos que leva em consideração as fases em ordem cronológica. Segundo ele, a mudança para métodos ágeis causou no início um grande desconforto com pessoas de TI se perguntando: “mas vamos entregar só um pedacinho?”
A transformação passou por trazer as áreas de business para dentro da tecnologia e, por meio de squads, foi desenvolvido o novo workflow de sinistros da companhia. Ele explica que antes, toda a solicitação referente a um sinistro passava por um número enorme de checagens e quanto maior o valor, mais alta a alçada de decisão.
No novo conceito de workflow, uma solução de inteligência artificial verifica a solicitação e se o valor requerido está de acordo com o contrato e processos, que antes levavam um mês passaram a ser liberados em dois a três dias. “Este foi um projeto que trouxe eficiência operacional, tanto para TI quanto para as demais áreas”, diz Marcelo.
Outro avanço destacado por Marcelo foi no processo de precificação, onde foi construído um datalake, um grande repositório de dados com todas as informações necessárias para definição de preços. E foi desenvolvido um motor de cálculo da análise de riscos e um front end que se conecta a ele reduzindo o procedimento, que levava de duas a três semanas, para dois dias. TI as a service é o conceito hoje vigente na companhia, com a jornada de cloud iniciada em 2018 e acentuada nos últimos dois anos.
Trazer inovação para dentro da empresa é um dos mantras atualmente. O IRB possui uma parceria com a B3 onde o desafio é desenvolver e aprimorar processos usando tecnologias como cloud e blockchain, entre outras. E dentre os desafios atuais, Marcelo destaca a padronização/unificação para maior integração entre as corporações de forma a alavancar as operações.
Como não podia deixar de ser, cibersecurity é outro tópico que Marcelo pontua como entre os Top 3, logo depois de lucro e metas, e garante que a companhia está muito atenta e ativa nesta área por meio de ferramentas, treinamento e monitoramento 24×7.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.