TI ainda incompreendida
Irajá Curts passou por companhias como a Batavo, Frimesa, Pecin, Zepponi, todas da área alimentícia, além da Fertilizantes Tocantins, e com sua experiência no setor diz que o grande desafio nas empresas fabricantes de alimentos de médio e grande porte ainda é o de fazer TI com poucos recursos em função do não entendimento sobre a importância da tecnologia da informação para o negócio.
“Muitos empresários do setor não enxergam a TI como parte do negócio.” E acrescenta que o foco das empresas do setor está na produção e ainda não existe, até hoje, a compreensão de que sem a TI o negócio não funciona e do quanto ela pode alavancar a produção e as vendas. “O aprendizado acaba sendo pela dor, e não pelo amor. A TI é lembrada no momento quando já estão ocorrendo perdas.”
Segundo Irajá, diante deste cenário há sempre um longo processo de convencimento para aprovação dos projetos junto à alta gestão. Ele conta que chegou a ter conversas com CEOs que afirmavam estarem dispostos a pagar pelo resgate de dados em uma eventual invasão à empresa ao invés de investirem preventivamente em segurança da informação para evitar eventos do tipo.
Ele explica que há outros fatores para este comportamento de empresas de médio para grande porte da indústria de alimentos com relação à TI que são o fato de muitas estarem fora dos grandes centros, seu tamanho e a própria origem familiar. E destaca que em algumas destas empresas o CIO reporta para o gestor financeiro, com a TI sendo considerada um centro de custo.
Não é o caso dele, que na Zaeli responde para o CEO que é um executivo com visão de inovação. A empresa, situada na cidade de Umuarama, no Paraná, tem mais de 50 anos, 800 funcionários e faturamento de cerca de 500 milhões de reais e tem como carro-chefe entre seus produtos o arroz, diversos tipos de farofas e derivados do milho. Além do Brasil, a Zaeli atua também no Mercosul e em alguns países da América, Europa e Ásia.
Irajá chegou à empresa em abril deste ano para ocupar a cadeira de CIO que estava vaga há um ano, período em que a área foi gerenciada por um coordenador. Ele destaca entre os desafios a falta de mão de obra qualificada, principalmente fora dos grandes centros. “Hoje se eu perco um recurso é muito difícil repor. Muitas vezes tenho que trazer de fora da cidade e isso gera um custo adicional de mudança e instalação da pessoa, além de sua adaptação ao trabalho”. Por outro lado, destaca que no caso da Zaeli há uma preocupação muito grande da empresa com relação a seus funcionários, justamente para procurar mantê-los.
Seu primeiro passo na empresa foi a compreensão dos processos para então elaborar um plano diretor de TI. Segundo Irajá, a TI deve estar à frente do negócio, entendendo as questões que serão colocadas no curto e médio prazo. Mas admite: “ainda estamos numa fase anterior, a de alcançar o negócio”. Um exemplo prático apontado por Irajá é o aproveitamento do ERP da SAP, instalado em 2010, que ainda hoje está abaixo de seu percentual máximo de aproveitamento. “Eu diria que atualmente o uso do sistema de gestão ainda se encontra no estágio operacional. Não atingiu o estágio estratégico para oferecer ao board os subsídios necessários para a tomada de decisões”.
E este é um trabalho em andamento, a otimização do uso do ERP juntamente com um foco em BI – Business Intelligence para prover à alta gestão dados simples de serem compreendidos e seguros. “O melhor ERP é aquele usado em sua plenitude e cabe ao CIO usar ao máximo o que a empresa já tem”, reforça. E dá como exemplo a necessidade do apontamento de informações a respeito da produção item a item para o entendimento perfeito do custo de cada produto.
Uma outra questão é o conhecimento do cliente. Segundo Irajá, a maioria das indústrias de alimento de médio para grande porte não trabalham com CRM – Customer Relationship Management, o que leva a que o consumidor seja pouco conhecido destas empresas. “Temos os dados das redes de distribuição, mas faltam informações mais específicas dos nossos clientes.”
Hoje o foco de Irajá na Zaeli é o conhecimento mais profundo dos processos para saber onde a TI pode atuar de forma mais ampla nos sistemas de gestão industrial e nos de gestão comercial reduzindo a necessidade de manutenção e ampliando a capacidade de produção e, consequentemente, os ganhos. A otimização do uso do ERP, a obtenção de dados mais simples e seguros para embasar os processos de decisão e uma revisão completa do sistema de segurança da informação da empresa são os projetos em andamento na empresa.
Irajá diz que seu perfil profissional ao longo de sua carreira tem sido o de construção das áreas de TI demonstrando as necessidades, remontando os patamares e formando pessoas para darem continuidade ao trabalho. “Meu conceito de melhoria é gerar os meios para que a TI seja estratégica trabalhando naquilo que a empresa tem como objetivo para o seu futuro”.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.