Total conexão
Apesar de ter transitado antes por universos tão diversos quanto o varejo de roupa, com a Dafiti, e o do entretenimento, com o Cinemark e o início do Ingresso.com, entre outros, Cristiano Hyppolito, antes de assumir a tecnologia e área digital do grupo DPSP – Drogaria Pacheco São Paulo, em 2020 no meio da pandemia, já tinha tido uma experiência do back office do negócio de farmácias com o programa de benefícios Dotz e já pesquisava, por conta própria, a questão da saúde dos brasileiros. O convite para o DPSP, como ele mesmo diz, veio conectar este seu interesse com o conhecimento de digital, fruto da experiência com a Dafiti. “Fez todo o sentido”.
Em termos de desafios, o primeiro apontado por Cristiano foi o legado, lembrando tratar-se de uma empresa centenária fruto da fusão entre a Drogaria Pacheco e a Drogaria São Paulo, ocorrida em 2011. Hoje, o grupo DPSP possui 1,4 mil lojas e conta com 26 mil colaboradores. O faturamento de 2020 foi de 11 bilhões de reais. E o segundo ponto em questão era transformar a companhia cada vez mais digital.
Para enfrentar a questão do legado foi construído um road map, baseado no sistema da Peoplesoft que faz a gestão dos centros de distribuição e dos produtos. A decisão sob o novo software recaiu sobre o SAP S/4 Hanna for Retail. O projeto, que prevê 100% do processamento em nuvem, teve início em meados de 21 e vai até 2024.
Cristiano destaca que este é o maior projeto de retail da SAP em toda a América Latina e o maior investimento em tecnologia já feito pelo grupo. Ele explica que o objetivo é levar a companhia ao estado da arte em tecnologia, cada vez mais ágil, de modo a estar onde e quando o cliente precisa.
Para Cristiano, o impacto na TI foi positivo, porque a área já esperava por mudanças e hoje já enxerga a entrega de valor. E o mesmo com as áreas de negócio, uma vez que desenvolver em cima de um sistema legado é sempre muito trabalhoso, dá dor de cabeça e isso tem impacto direto no negócio em si. Então o projeto foi aplaudido pelos dois lados e pela alta gestão, que não tinha dúvida quanto à necessidade de mudança.
Para a implementação do novo sistema, Cristiano conta que foi criado um time específico e a tecnologia foi formatada em quatro torres Agile: Pré-venda, Venda, Pós-Venda e Back Office, o que integrou mais a área de TI às áreas de negócio. Ele diz que a TI passou a pensar também em entrega de valor em cada iniciativa e as áreas de negócio se sentiram mais acolhidas. Há ainda um CIO especializado que trabalha especificamente as lojas. E destaca que uma estratégia importante foi, ao invés de fazer um big bang daqui a dois anos, o projeto foi fatiado e a entrega de valor é palpável para as pessoas.
Mas Cristiano sabe que ao longo do projeto surgirão novos desafios porque as pessoas vão ter que mudar sua forma de trabalhar, entre eles o impacto da implementação nos centros de distribuição, no primeiro semestre de 2023. Neste sentido, um time de gestão de mudança acompanha o projeto desde o seu início junto aos usuários e um time batizado de Agilidade difunde o conceito em toda a companhia.
E como parte desta conscientização foi criado um módulo de Agilidade dentro da universidade corporativa da companhia, que é conduzido pelo head de Agilidade, e trabalha uma metodologia de “como ser ágil”. E o objetivo é ampliar sempre o nível de maturidade neste processo.
E os avanços ele mostra que são perceptíveis também em termos de resultados. Em 2020, a venda via e-commerce do grupo representava 2,5% do total. Hoje esta participação já atinge mais de 10% e as 1,4 mil lojas estão preparadas para serem o local de retirada de produtos, independente de onde a compra tenha sido feito, dentro do conceito de omnicanalidade. Cristiano explica que, por meio da universidade corporativa, foi trabalhando esta ideia de omnichannel, ou omnicanal, com as pessoas sendo treinadas e aculturadas.
Uma outra iniciativa interessante apontada por ele foi o curso de desenvolvedores, aberto a todos os colaboradores e ao mercado, tanto para preparar os interessados para entrar em tecnologia, quanto para que as pessoas de outras áreas passassem a pensar também com a cabeça de desenvolvedores para ajudar a desenvolver o produto.
E ele comenta que uma farmacêutica que trabalha no grupo havia entrado em contato com ele pouco antes de nossa conversa para propor uma ideia de um sistema para ajudar as lojas em sua digitalização. “Agora temos um batalhão a favor da digitalização da companhia”, reforça.
E no fim de nossa conversa, Cristiano falou ainda de uma nova empresa dentro do grupo, a Viva Saúde, uma startup com objetivo de criar um ecossistema aberto de saúde para o país entregando saúde de qualidade para pessoas que não têm plano de saúde, que são 70 milhões de brasileiros.
“É uma plataforma digital de conexão entre as pessoas, operadoras, farmácias e médicos, baseada em modelos existentes na Inglaterra e na China, trazendo o princípio de um cadastro único do paciente e gerando uma base de dados para estudos sobre tratamentos. Além de dar acesso à telemedicina dentro de um modelo de negócio vertical com tudo relacionado à saúde, incluindo uma conexão com alimentação saudável e com exercícios físicos, academias, compondo uma estratégia de longo prazo da companhia”, completou o executivo, bastante animado com a iniciativa.
Depois de comandar a TI em segmentos tão diversas quanto o varejo de moda, no grupo Dafiti, o programa de fidelidade para troca por serviços e/ou produtos Dotz e a rede de cinema Cinemark, Cristiano Hyppolito é desde 2020 a CDTO e C-Level Executive do grupo DPSP – Drogaria Pacheco e São Paulo, e minha primeira pergunta dirigida a ele em nosso papo foi: como transitar em áreas tão diferentes.
“Entre 16 e 18 era prestador de serviço para farmácia por meio da Dotz e, como tal, já tinha uma atuação no back stage e uma outra coisa que já vinha chamando a minha atenção era a saúde dos brasileiros, tema que eu já vinha estudando. Então quando surgiu o convite para vir para o grupo isso se conectou pelo conhecimento que eu tinha do back e de digital forte, por conta da Dafiti, e a questão do foco na saúde do brasileiro. E aí eu vi que fazia total sentido vir para a DPSP”.
Um primeiro ponto foi o legado. É uma empresa centenária. “Sem dúvida foi um super desafio porque são 1,4 mil lojas, 24 horas por dia, com alta frequência de pessoas. E a empresa estava em sua transformação digital”. Ele lembrou da transformação no grupo Cinemark com a ingresso.com que tornou a venda de ingresso digital. E era um momento que a empresa precisava, cada vez mais, conectar os dois mundos, o físico e o digital.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.