Um computador que responda minhas perguntas
Aos 13 para 14 anos, vendo o pai trabalhar com programação e corrigir as lições de informática de seus alunos da Marinha, Donner pediu de presente um computador. O pai lhe perguntou o que ele faria com um computador e a resposta: “quero que ele responda às minhas perguntas”. No lugar do computador o pai lhe deu um livro que mostrava que é o homem quem programa o computador para que ele dê as respostas esperadas. Aprendida a lição, chegou então a hora de ganhar um computador. “Foi quando comecei a programar em Basic e percebi que era isso que eu queria fazer profissionalmente”.
Anos mais tarde, ao prestar vestibular para Engenharia, Donner passou para o segundo semestre, e quando achou que ficaria de férias por mais seis meses o pai o inscreveu em um curso de Cobol que durava exatamente um semestre. Mas logo depois dos primeiros meses de curso disse que ele procurasse uma pessoa na empresa Touring, que atuava na área de turismo rodoviário, para começar um estágio. “Comecei a estagiar antes mesmo de iniciar a faculdade e continuei mesmo quando começaram as aulas.”
Em seguida trabalhou na Rio Clínicas, empresa da área de seguro de saúde e na Editora Ediouro, onde começou a cuidar do Centro de Processamento de Dados, se iniciando então na carreira de coordenador. Além da editora, a Ediouro possuía também uma rede de livrarias, a Curió, e foi onde teve a oportunidade de participar da implementação de um sistema integrado de gestão de livrarias que foi o embrião para a futura implantação de um sistema de gestão integrado mais completo, que contemplasse todas as atividades da companhia.
A consultoria que participou da implementação do sistema da Datasul, a BBI – Big Business Intelligence Group, o convidou então para ir para São Paulo, participar de um projeto que envolveria internet. “Eu não tinha a menor ideia a respeito do assunto mas era jovem, solteiro e resolvi arriscar”, conta. Chegando com meu carro em São Paulo me fiz a pergunta fatídica: “o que eu vim fazer aqui”. E diz que este grande desafio o ajudou muito a se formar como profissional encarando dificuldades, criando novos caminhos e desenvolvendo uma grande capacidade de resiliência.
“A tecnologia tem isso, ela nos dá oportunidade de lidar com coisas novas o tempo todo e para acompanhar este ritmo você precisa ter disciplina”. Com a BBI, Donner passou pela Vale Refeição, Shell e CDN, grupo de comunicação onde em 1999 participou do desenvolvimento de uma solução de e-procurement que era o embrião de um marketplace que acabou se mostrando um projeto à frente do seu tempo. “O mercado ainda não estava maduro para aquele tipo de proposta”.
Um grupo de colegas resolveu deixar a consultoria e criar a Webb, de soluções business-to-business, em sua iniciativa agora como empreendedor e que marcou também sua volta ao Rio de Janeiro. A Webb, onde ocupava o cargo de Diretor de tecnologia, nasceu com 9 pessoas e chegou a um total de 600 funcionários. “Saímos de um papel em branco e foi um aprendizado enorme”. Ele lembra que na ocasião teve oportunidade de trazer novas tecnologias para o Brasil como o caso da Ariba, de eprocurement, hoje da SAP, e que foi um dos primeiros a implementá-la.
Segundo Donner, um ano de uma startup vale por dois em qualquer outra empresa. Nove anos depois, Donner deixou a Webb e foi para a Infoglobo onde viveu o processo de transformação da mídia com a expansão da internet. “O desafio era redesenhar a plataforma multimídia com processos e tecnologia únicos com o objetivo de consolidar a operação impressa e digital em uma redação integrada para prover conteúdo para as diversas plataformas da empresa”, explica.
O passo seguinte foi se aprofundar no conhecimento do consumidor para gerar novos produtos e serviços e uma central de atendimento omnichannel como parte da consolidação das empresas Editora Globo e jornal Valor Econômico, que foi quando a Globo adquiriu 100% dos direitos sobre o jornal, unificando então também processos e pessoas. Em 2019 Donner chegou à Globo, que reúne a TV Globo, Globosat, Som Livre e Globo.com, com um total de 15 mil funcionários e faturamento de R$ 15,1 bilhões.
Ele ocupa a posição de head de TI das áreas de finanças, jurídico e infraestrutura e entrou para capitanear nestas áreas o programa Conecta, parte do projeto Uma só Globo, tendo como meta unificar o ERP, suplly chain, sistemas de RH e de planejamento financeiro/orçamentário de todas as empresas. O go live do Conecta aconteceu em janeiro de 2022 e, segundo Donner, representa a consolidação da integração dos negócios da companhia.
O Conecta tem como base a entrega contínua de valor com os times estruturados em squads que atuam de forma paralela e integrados, orientados por objetivos e resultados-chave. Dentro da área coordenada por Donner estão também os projetos de automatização e uso de robôs dentro do chamado RPA – Robotic Process Automation.
Hoje são mais de 50 robôs em uso na Globo realizando tarefas definidas como repetitivas buscando maior assertividade e, segundo ele, desonerando o ser humano para tarefas mais nobres. Segundo Donner, o uso de chat GPT e inteligência artificial está sendo estudado em alguns projetos já em curso mas todos ainda sigilosos.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.