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Ana Baldini, CIO da Vicunha

Ana Baldini, CIO da Vicunha

Minha conversa para Bastidores da TI foi com Ana Baldini, CIO da Vicunha. Este papo foi marcado e desmarcado algumas vezes, o que já mostrava o ritmo de trabalho da Ana, que entrou na Vicunha em janeiro deste ano. Mas finalmente conseguimos e foi um papo delicioso. Ana falou sobre seu gosto pela área de Exatas desde muito jovem e sua trajetória, passando por setores variados como financeiro, telecomunicações, indústria de cosméticos e bem-estar, indústria farmacêutica e consultoria, até chegar à Vicunha, onde assumiu a liderança da área com a incumbência de realizar uma completa transformação digital. Conheça os seus projetos e como ela está lidando com todas as mudanças geradas por esta transformação, tanto na própria área quanto em todos os demais setores da empresa.

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Foco nas pessoas

Ana Baldini, CIO da Vicunha, conta que sempre gostou de Exatas e desde pequena sabia que seu futuro seria nesta área. “Sonhava em ser cientista e trabalhar na NASA”. O sonho a levou a estudar Física, pensando em atuar em pesquisa, mas percebeu a dificuldade da pesquisa no País, o que a fez abandonar o curso e migrar para Administração de Empresas.

Estudando na Faculdade de Economia e Administração da USP, prestou concurso para o então Banespa – Banco do Estado de São Paulo, que possuía uma agência dentro do campus universitário onde ela conseguiu ser alocada. No banco, passou por diversas áreas até que o Banespa realizou um concurso interno para capacitação para o departamento de Tecnologia. Era o final da década de 80, início de 90, a automação bancária estava começando e o banco precisava formar mão de obra para essa mudança. Ela passou no concurso e ficou um ano estudando sob o patrocínio do Banespa.

Em 1990, Ana entrou para a área de TI do banco, onde permaneceu por sete anos como programadora e analista de sistemas. “Foi ali que tive contato com vários processos de negócios e percebi que como profissional da área eu preferia trabalhar no processo de transformação do que no desenvolvimento de software. A digitalização estava começando e eu tive a oportunidade de sentar na primeira fileira”, diz Ana, e completa: “O que estava sendo digitalizado era a relação da instituição com o cliente.”

Lembrando que a equipe do Banespa era aquela oriunda do curso patrocinado pelo próprio banco, ela conta que, com a automação bancária bombando, teve a oportunidade de participar de todo o processo definindo onde fazia sentido instalar os caixas eletrônicos, que funcionalidade seriam colocadas na tela, como seria a comunicação da máquina com o cliente, entre outras decisões.

“Tudo o que hoje se chama de experiência do cliente naquela época não tinha esse nome, mas foi exatamente o que fizemos. Foi quando comecei a ter a visão 360º do negócio.” Depois desse período, Ana conta que teve vontade de ir para a iniciativa privada para ver o que tinha no mercado que ela não conhecia.

Foi então para a DirecTV, hoje Sky, de TV por assinatura, que estava iniciando a operação por satélite no lugar do cabo. “Era tudo muito novo, inclusive lá fora, e aqui estavam montando esta operação, era como uma startup e lá tive a oportunidade de conhecer como funciona a indústria de telecomunicações.” Pela empresa, passou seis meses nos Estados Unidos trabalhando com uma equipe multicultural da América Latina para mapeamento do processo na região de ponta a ponta. Quando voltou para o Brasil, assumiu a área de processo na companhia.

Depois de cinco anos, Ana fez uma parada estratégica em sua vida profissional para ser mãe, como havia planejado. “Foi maravilhoso e isso é algo que gosto de contar porque ainda há muito tabu sobre a questão da maternidade na vida de executivas. Mas para mim foi uma escolha.” Depois de um ano, um diretor com quem havia trabalhado na DirecTV a convidou para a CPM/Braxis, que na ocasião estava desenvolvendo um trabalho grande para o Bradesco.

Depois de dois anos, fez uma nova parada para cuidar do segundo filho que estava a caminho. “Me preparei para sair e me preparei para voltar.” E a volta foi para a Natura, que na época procurava uma pessoa para se dedicar ao relacionamento da TI com o negócio. “Era a minha cara”. Ainda não conhecia a área de consumo e foi uma época muito intensa pelo dinamismo da Natura. Lá, cuidou da TI para a área comercial e de inovação.

Segundo Ana, depois que você passa por empresas multinacionais, percebe que as empresas brasileiras são menos processualizadas. “No geral, dependem muito do relacionamento pessoa a pessoa e a definição das coisas é praticamente caso a caso”, explica. “Na manufatura, as linhas de produção são regidas por tempos e métodos e por normas técnicas e são necessários processos, procedimentos, padrões para a gestão administrativa, o que traz ganhos importantes de produtividade e qualidade”, destaca.

Ela conta que na época a Natura estava crescendo a dois dígitos ao ano, o mercado aumentando e havia uma pressão muito grande por parte da área comercial com relação à TI. “Trabalhei horrores mas foi uma escola incrível e fiz contatos para toda uma vida, alguns inclusive que estou trazendo para trabalhar comigo.”

Depois de sete anos na Natura, Ana foi convidada a ocupar o cargo de CIO na farmacêutica Bristol Myers Squibb. E a reação foi “mais um setor que eu não conheço, vamos ver como a indústria farmacêutica funciona. E eu amei.” Lá foi responsável pela globalização de toda a TI. Ela explica que a empresa atua em mais de 100 países e todos os serviços são totalmente globalizados.

A saída da Bristol coincidiu com o início da pandemia e foi um período diferente para Ana, que passou a viver em casa e a lidar com serviços domésticos com os quais não estava acostumada. “Até gostei e senti falta depois”, comenta. O próximo passo, quando a pandemia permitiu, foi na PYXS Consulting, motivada pela oportunidade de desenvolver um produto digital para a manutenção de conteúdo fiscal na nuvem com atualização de impostos, alíquotas, etc., o que é uma forte demanda do mercado nacional. “Outro negócio novo para mim e de grande impacto para a operação das empresas que atuam no País.”

Neste período, a Vicunha a procurou e a virada do ano marcou mais este reinício como a head da área, responsável pela transformação digital que a alta liderança já enxergava ser necessária. Seus projetos rumo à transformação digital da companhia começaram pela atualização da TI de acordo com os padrões mais modernos de gestão. “Estou trazendo processos de acordo com as melhores práticas.”

Outra questão em curso é o estabelecimento de uma cultura de cyber vigilância a partir de um programa de capacitação com palestras, treinamento e comunicação para elevar o nível de consciência do risco e do cuidado que cada um deve ter com o uso da tecnologia.

Um terceiro ponto é a modernização da infraestrutura tecnológica, a empresa ainda trabalha com datacenter próprio, e também uma modernização da parte industrial, com mais automação. Outra questão destacada por Ana é o uso massivo de dados, transformando a Vicunha em uma empresa direcionada a dados, contribuindo com o que algumas áreas já estão fazendo. “E finalmente, adotar as bases da indústria 4.0 e soluções de inteligência artificial”.

Ana conta que quando chegou à Vicunha encontrou uma expectativa enorme em relação à tecnologia e a consciência de que a área precisava passar por uma transformação. “Havia um consenso de que eles precisavam de alguém que traduzisse as deficiências de TI para que investissem no lugar certo e queriam alguém que fizesse uma gestão centrada em pessoas, e não apenas tecnologias e processos. Esta era outra preocupação e por isso me procuraram”.

Ela diz que diante deste cenário, muito do seu tempo está sendo investido em comunicação, tanto com a alta liderança e com seus pares diretos quanto com a própria equipe, porque a maioria do grupo é antiga na empresa e essa é a realidade que conhecem e com a qual sempre conviveram. “Mas todos têm me apoiado muito!” Prova disso é que a TI já obteve 25 milhões de reais para um projeto de cinco anos que ela considera a ponta do iceberg e a base para os demais. Mas admite que para muitos a TI ainda é uma caixa preta e a expectativa é que a tecnologia destrave as questões de forma muito rápida.

*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.

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