De atleta a CIO
O País perdeu um jogador de futebol e ganhou um CIO. Esta é a curiosa história de Alex Vieira, Superintendente de TI do Hcor. Alex sonhava em ser jogador de futebol profissional e quando jovem chegou a jogar em times de ponta, como o Palmeiras, com a ideia de seguir a profissão de esportista. Foi quando seu pai o aconselhou a ter um plano B. Foi quando se inscreveu em um curso de tecnólogo em rede, que fez em paralelo ao colegial, e para ter o diploma precisava fazer um estágio remunerado.
De uma lista enorme de empresas e os respectivos e-mails recebida de um amigo do pai para as quais enviou currículo, Alex recebeu resposta do HospitaL Sírio-Libanês, um dos maiores hospitais de São Paulo, onde entrou para estagiar e acabou permanecendo por 13 anos, vivenciou as diversas revoluções da área de TI e considera até hoje sua grande escola.
“Eu digo que entrei em TI e em Saúde por acaso. O Sírio estava começando sua jornada digital, no início dos anos 90, e consegui meu primeiro estágio.” Alex conta que no final do ano sua chefe disse que não teria como efetivá-lo porque não havia vaga e que infelizmente não poderia renovar seu estágio. “Como eu queria muito ficar no Sírio perguntei a ela se eu estivesse cursando uma faculdade eu poderia entrar em um novo estágio. Depois de consultar o RH ela disse que sim e em janeiro eu comecei o curso de Ciência da Computação e tive meu estágio renovado.” Ao final do curso, Alex foi efetivado na empresa, quando o Sírio passava a viver uma transformação digital. Trabalhou em suporte e infraestrutura e depois na área de sistemas. O passo seguinte foi uma pós em Gestão de Projeto que o levou para o escritório de projeto da instituição.
Alex conta que em uma festa de aniversário conheceu um rapaz que acabara de voltar de um intercâmbio no Canadá. Se encantou com a ideia e, decidido, no dia seguinte comprou uma passagem e resolveu pedir demissão para viver essa experiência. Ao comunicar à chefe sua decisão, ela o persuadiu a reduzir o tempo de estada fora juntando férias vencidas e a vencer e horas extras de forma tal que teria sua vaga garantida ao retornar. E foi o que aconteceu. Na volta ele foi indicado para conduzir o processo de expansão do hospital. Sentiu necessidade então de skills de administração de empresa o que o levou a um MBA. Alex conta que determinado momento recebeu uma proposta de outra empresa e o Sírio-Libanês ofereceu uma pós em Gestão Hospitalar para sua permanência.
Inquieto, paralelo ao trabalho decidiu empreender e abriu uma loja de roupas femininas. O negócio ia tão bem que chegou a ter 16 lojas, administradas pelo pai e pelo irmão, mas que foram fechadas na pandemia, quando o comércio não pode funcionar e o lucro obtido até então foi utilizado para pagamento dos 65 funcionários e dos aluguéis até o encerramento do negócio. Mas junto a tudo isso, na impossibilidade de cursar medicina para ampliar seus conhecimentos na área de saúde, Alex fez mais uma faculdade, desta vez de Odontologia, profissão que, por incrível que pareça, exerce aos sábados.
Em 2017, depois de 13 anos, o executivo deixa o Sírio para atender a um convite da multinacional de saúde United Health Group, antiga proprietária da operadora Amil, onde atuou como Gerente Nacional de TI. “Saí de uma empresa nacional com 8 mil funcionários para uma multinacional com 35 mil e report fora do País”, conta. Na United Health, Alex diz que teve a oportunidade de viver na pele a diversidade do Brasil. “A maneira que você implanta um sistema em São Paulo é totalmente diferente de como acontece no Rio de Janeiro ou no Nordeste. Você tem que considerar questões como a cultura e os hábitos”, completa. Ele conta que na empresa teve a oportunidade também de conhecer a metodologia de trabalho de uma multinacional. “Isso me ensinou a tomar decisões de maneira muito rápida.”
No final deste mesmo ano, Alex recebeu um convite da Rede D’Or para ocupar a Gerência Executiva de TI de um novo negócio do grupo, a Oncologia D’Or. Lá participou do planejamento e construção da área de TI para que ela suprisse as necessidades do novo negócio que funcionava como uma empresa independente. “Quando entrei eram 11 unidades da Rede D’Or Oncologia e quando saí já totalizavam 56.”
Em meados de 2020, em plena pandemia, Alex foi chamado pelo HCor para assumir a direção de TI da instituição e se surpreendeu quando chegou. “Quando entrei tudo ainda era feito com o uso de papel. A área estava sucateada, com equipamentos antigos, e o hospital ainda não trabalhava com prontuário eletrônico, me surpreendi.”
Segundo Alex, a diretoria tinha consciência da necessidade de mudança mas não tinha a visão do todo, do trabalho de alicerce que tinha que ser feito para iniciar a informatização. Ele conta que mostrou o que precisaria ser feito, “e era muito”, e pediu à direção que fossem transparentes dizendo se haveria investimentos em tecnologia. O orçamento inicial era de 32 milhões de reais. Alex diz que como o Hcor estava sob a gestão de um novo presidente, havia a consciência de que deveria ser feito um investimento significativo para voltar a colocar o hospital em sua jornada digital.
Diante do cenário apresentado e da resposta positiva teve início a verdadeira transformação digital da instituição considerando infraestrutura, rede, datacenter, banco de dados, sistema de gestão empresarial, segurança da informação e sistemas administrativos, além dos sistemas aplicativos como a implantação do prontuário eletrônico e do desenvolvimento do software para acesso do paciente, do portal médico e sistema para checagem de segurança de medicamento aplicados em pacientes, além da implementação de inteligência artificial para laudos de exames.
De 32 pessoas, a área cresceu para um total de 120. “Contratamos pessoas mais seniores o que tornou possível toda esta revolução num curto espaço de tempo com pessoas que já tinham passado por situações semelhantes”, explica. “Em seis meses, em plena pandemia, eu contratei 93 pessoas para trabalharem presencialmente e as pessoas que vieram muitas que já tinham trabalhado comigo anteriormente e aceitaram o desafio pelo relacionamento e pela confiança”, conta. Neste período foi criado também o Nova. Inaugurado em 2022, o Nova é um organismo dentro da instituição para pulsar a inovação em toda a organização por meio de cursos, treinamentos, captação de start-ups e palestras para engajamento, “catequizando as pessoas rumo à cultura da inovação.”
Nestes quatro anos, a nova equipe de TI desenvolveu 427 projetos e atendeu 180 mil chamados das áreas. Alex conta que quando chegou ao HCor, o NPS (Net Promoter Score) de TI, métrica de satisfação do cliente, era de 58. Nos últimos três anos este número subiu para 97. “E o grande fator complicador foi fazer tudo isso durante a pandemia”, destaca, “com todas as áreas trabalhando de casa e eu tendo que convencer toda a equipe de TI que eles tinham que estar aqui presentes para dar treinamento aos enfermeiros”. “Tivemos que fazer um enorme trabalho de gestão de pessoas para que elas se integrassem e se entregassem a todo o processo que estava em curso”, reforça, o que, por sinal, o levou a uma outra pós, justamente em gestão de pessoas.
Hoje, o foco da TI do Hcor é trabalhar toda a informação captada e armazenada ao longo do processo de digitalização fazendo uso de inteligência artificial. Outra frente de atenção da área no momento é a experiência do paciente, conectando todas as pontas de forma que esta experiência seja digital e acolhedora do início ao fim da jornada deste paciente na instituição.
Alex explica que hoje, pacientes crônicos, por exemplo, em caso de febre ou qualquer outro evento pode imputar diretamente informações no aplicativo e estas são recebidas por uma equipe de especialistas numa base omnichannel de forma que quando este paciente entra na instituição, por onde quer que seja: consultório, pronto socorro ou internação, entre outros, qualquer pessoa que recebê-lo tenha todos os dados a seu respeito em mãos, tratando-o não mais no coletivo, mas de forma individualizada e acolhedora, evitando que o paciente tenha que repetir todas as informações a seu respeito.
Alex diz que hoje as áreas entenderam que a tecnologia é parceira e a TI participa praticamente de todas as decisões. “A base da instituição hoje é pessoas e tecnologia”, afirma. “Para Alex, o aprendizado de todos os anos anteriores nas organizações por onde passou foram a base para que ele conseguisse atingir os resultados obtidos. “Ao longo da minha carreira fiz uma preparação para chegar aqui, e esta foi a minha sorte.”
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.