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Entrevista com Cristiane Gomes, CIO da Motiva

Entrevista com Cristiane Gomes, CIO da Motiva

Uma das coisas que adoro na minha profissão é a oportunidade conhecer pessoas e histórias inspiradoras. E conversar com a Cristiane Gomes, Diretora de Tecnologia e Digital da Motiva (novo nome do Grupo CCR) foi destes papos que realmente inspiram. De CIO a CEO e hoje diretora de uma holding que reúne negócios nas áreas de infraestrutura de rodovias, aeroportos e mobilidade urbana, onde a tecnologia está presente em cada passo, literalmente. Em seus mais de 20 anos no grupo, cinco dos quais como terceira, entre os desafios ela assumiu como CEO da CCR Aeroportos quando a companhia concentrava sua atuação no exterior e sua gestão enfrentou a pandemia quando os voos e consequentemente os aeroportos “pararam”. Entre aspas porque não podiam simplesmente parar, os voos humanitários continuavam ativos. Após essa experiência pra lá de árdua, como a própria Cristiane a classifica, retorna para Tecnologia com o desafio de conduzir a transformação e habilitar a estratégia da companhia por meio da Tecnologia e Inovação digital. Boa leitura!

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Tecnologia como vetor de eficiência

  

Quem começou a vida profissional usando microcomputador não conheceu as escolas de datilografia, passagem obrigatória dos jovens até os anos 80/90. E foi onde Cristiane Gomes, diretora de Tecnologia e Digital da Motiva (novo nome do Grupo CCR), começou a atuar enquanto fazia Processamento de Dados no que hoje seria o Ensino Médio. Com a chegada dos micros e a experiência que vinha adquirindo, ela montou um curso de digitação e outro de programação em Basic na escola de datilografia onde trabalhava. Cristiane conta que sempre gostou muito de matemática e cálculo, e sua primeira faculdade foi justamente a de Matemática.

 

Antes mesmo da faculdade, ela começou a trabalhar como programadora em uma consultoria parceira da empresa Procomp, hoje Diebold, uma das protagonistas da automação bancária, comercial e das urnas eletrônicas no Brasil. “No início da carreira fui muito técnica, mas sempre gostei do vetor de eficiência promovido pela tecnologia”, diz Cristiane. E foi assim que depois de quase dez anos de consultoria durante os quais passou por melhoria de processo, fábrica de software, automatização de chão de fábrica e desenvolvimento de sistema para a área de produção, contábil, entre outros, até se tornar gerente de projeto, decidiu mudar de lado na mesa e migrar para o lado “cliente”. “Na consultoria você faz o projeto e ele fica nas mãos da empresa-cliente e você não continua acompanhando. Então resolvi tentar uma oportunidade do outro lado para além de implementar projetos, garantir seus resultados.”

 

E ela surgiu na Autoban, uma concessionária de serviços na área de rodovias do grupo CCR, recém-criada na época, em 1998, e que ganhou a concessão para exploração de duas grandes rodovias no interior de São Paulo, a Anhanguera e a Bandeirantes. Cristiane trabalhou para a consultoria que foi responsável pelo outsourcing de toda TI da Autoban até 2003, quando surgiu na holding do grupo o Projeto Crescer com o objetivo preparar a CCR para o crescimento em outros modais, começando por mobilidade urbana.

 

Cristiane foi então convidada a assumir a Gerência de Tecnologia do CSC – Centro de Serviços Compartilhados da organização tendo como primeira tarefa a padronização de sistemas e de toda a infraestrutura de TI. A esta altura, a CCR já era responsável por outras rodovias como a Nova Dutra, Rodo Norte e Via Lagos, da região dos Lagos do Rio de Janeiro, além da Ponte Rio-Niterói. Cristiane conta que cada um destes projetos tinha sua própria TI e o CSC nasceu justamente para centralizar a área. “Foi um trabalho muito interessante para o qual contamos com a ajuda da Mckinsey e que, quando concluído, mostrou o diferencial competitivo que o CSC passou a representar para a organização.”

 

Indo mais longe, em 2005 foi criado dentro do grupo o Centro de Excelência de Tecnologia da CCR que englobou todas as disciplinas relacionadas à tecnologia como infraestrutura, sistemas, cibersegurança e a tecnologia de operação ou engenharia de automação como é conhecida no mercado, incluindo telefones de emergência das rodovias, pedágio, radiocomunicação, monitoramento por câmeras, centros de controle, entre vários outros. “Criamos, de fato, a convergência entre IT e OT em um centro de excelência em tecnologia de transporte em rodovias”, destaca.

 

No ano seguinte concretizou-se a ideia do grupo de partir para outros modais de transporte. Mobilidade urbana foi o primeiro deles, com a participação da CCR na primeira PPP – Parceria Público Privada na área de transportes para a operação e manutenção da linha amarela do metrô de São Paulo. “Foi o primeiro negócio da área envolvendo a iniciativa privada”, destaca Cristiane, e para ela o desafio de um setor completamente novo. Em 2007 capitaneou a implantação do SAP para todo o grupo CCR e em 2012 Cristiane assumiu a posição de diretora-presidente do Centro de Excelência de Tecnologia e CIO do grupo CCR.

 

O dinamismo da carreira sempre acompanhou o dinamismo da empresa que caminhava então para a entrada no terceiro modal do setor de transportes, nada menos do que o de aeroportos. E que não veio sozinho, mas associado à internacionalização da companhia que além de ganhar a concorrência para operar o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, assumiu aeroportos fora do Brasil. Os primeiros foram os das cidades de Quito, Costa Rica e Curaçau e, por meio de uma aquisição da participação acionária de uma empresa americana, entraram para o rol da CCR aeroportos nove localidades nos Estados Unidos, entre as quais Chicago, Los Angeles e São Francisco.

 

Enquanto isso, o modal mobilidade urbana também crescia e em 2014 a CCR venceu a concorrência para construir e operar o metrô de Salvador com o compromisso de colocá-lo em operação antes da Copa do Mundo que se realizou no Brasil. Quando pergunto à Cristiane como é gerenciar a tecnologia de segmentos de transporte tão diversos, ela me responde que há muita sinergia entre as diferentes áreas do setor quando se fala de tecnologia, “o que leva à escala e redução de custo.” E acrescenta que hoje quando conversa com fornecedores e mostra esta “similaridade” entre os negócios fica claro que todos sairão ganhando.

 

Este olhar sobre o vetor eficiência promovido pela tecnologia mencionado no início do nosso papo e que tem permeado toda a carreira de Cristiane a levou, em 2018, à presidência da Autoban, a empresa responsável pelas rodovias e que tinha sido sua porta de entrada no grupo. Mais um desafio: “tive que assumir o P&L da maior concessionária em geração de receitas do Grupo, além de conduzir as relações com governo e prefeituras, algo que não fazia com tanta frequência antes.”

 

Em seguida, mais um convite dentro da organização e foi quando assumiu a presidência da CCR Aeroportos. Isso aconteceu em 2019, pandemia, quando fronteiras e aeroportos foram fechados. Detalhe: os voos humanitários continuaram… “Como CEO, tive que lidar com a integridade física e mental dos funcionários e com a enorme preocupação com a saúde financeira da empresa e sobrevivência dos contratos de concessão uma vez que não havia receita com os aeroportos fechados.” E acrescenta que a atuação junto aos governos e ministérios foi exaustiva, lembrando que parte dos aeroportos eram internacionais.

 

Em meio a este aprendizado, a CCR em 2021 venceu o leilão federal de aeroportos do chamado Bloco Sul e Central, num total de 15 aeroportos, e mais o leilão estadual de Minas Gerais, ficando responsável pela gestão do aeroporto de Pampulha. Ela conta que teve oito meses para montar todo o negócio e a infraestrutura obrigatória para o início da operação simultânea dos 16 aeroportos de norte a sul do Brasil que a empresa recebeu do governo, considerando todos os departamentos. “Eu tinha que ter equipes montadas, treinadas e prontas em todas as áreas porque no dia da virada os funcionários da Infraero saíram e entraram os nossos.”

 

Pouco tempo depois, em meados de 2022, Cristiane foi convidada a assumir a diretoria de Tecnologia e Digital do grupo, voltando à sua área de origem com a bagagem de quem conheceu a fundo todos os setores onde a companhia atua tanto como gestora de TI quanto como principal executiva de dois dos três modais. E para se ter uma ideia da dimensão de sua responsabilidade, a CCR registrou em 2024 receita líquida de R$ 15,4 bilhões, um crescimento de 10% sobre o ano anterior num negócio que gerencia dois milhões de veículos por dia nas rodovias que administra, segmento de maior participação no faturamento da companhia; cerca de três milhões de pessoas que utilizam metrôs e trens gerenciados pela empresa e mais de 40 milhões de passageiros em seus aeroportos. E em todos os segmentos onde atua a Tecnologia (OT e IT) é base para sua operação.

 

Cristiane destaca que inovação está no DNA da empresa e entre os projetos que capitaneou menciona o desenvolvimento do Sem Parar, em meados do ano 2000, sistema de pagamento eletrônico adotado em pedágios, estacionamentos, drive-thru e outras localidades onde o débito é feito a partir da leitura de uma tag instalada no vidro dianteiro para identificação do veículo.  Também foi pioneira no Brasil, em 2023, no desenvolvimento do primeiro sistema de Free Flow, de cobrança de pedágio no qual não é necessário sequer parar o carro. Sensores e câmeras reconhecem o veículo e registram a passagem para a cobrança via sistema de pagamento. A empresa também foi responsável por introduzir os trens sem condutor (driverless) na Linha Amarela do metrô, em São Paulo.

 

Ela reforça que desde 2023, com o novo CEO e a revisão do plano estratégico, da cultura e de toda a estrutura organizacional, a Tecnologia ganhou um papel dentro da Motiva (antes Grupo CCR) de habilitadora da estratégia. “A ideia é como viabilizar maior eficácia na utilização de tecnologia criando valor para os stakeholders, para o negócio e principalmente para os nossos clientes e a sociedade.” Em foco a TI de dados, IA, cloud, internet das coisas, automatização de processos, IT/OT, aproximação com o cliente e segurança.  “Estes são alguns dos vetores.”

 

Cristiane diz ainda que não poderia deixar de citar a Jornada de GenAI, iniciada no final de 2024. Segunda ela, a IA Generativa é uma tecnologia disruptiva e emergente, capaz de transformar processos organizacionais. “Mas, apesar do enorme potencial, ainda há um grande desconhecimento de como essa inovação pode ser aplicada de forma estratégica para impulsionar eficiência, criatividade e tomada de decisão. E acrescenta que a Jornada da Motiva em IA Generativa é uma iniciativa central para introduzir a tecnologia de maneira sustentável e bem-sucedida, “de forma a capturamos todos os seus benefícios especialmente em eficiência, segurança e experiência do cliente”, completa.