Roteiros e rotinas via IA
André Campos, CIO Latam da Martin Brower, desde muito cedo imaginou que seria publicitário por seu dom para desenho e ilustração. A decisão já estava madura quando a oportunidade de participar da Universidade Aberta da Unicamp, voltada a alunos do Ensino Médio e onde o tio era professor, o levou aos meandros da tecnologia e, principalmente, aos primeiros ensaios com o uso de computação gráfica. “Pensei, se eu aprender isso vou ter um diferencial competitivo”, lembra. A Martin Brower é uma das maiores empresas de logística e distribuição, presente no Brasil há 40 anos e com forte atuação no setor alimentício, tendo como clientes as principais redes de fast food como McDonald’s, Bob’s, Giraffas, Pizza Hut, Domino’s, Pizza Hut, Subway e KFC.
Iniciando sua formação na área, André cursou Princípios da Computação, no Senac em Araraquara, interior de São Paulo, onde nasceu. E sua primeira experiência foi quando viu a dificuldade de um parente em emitir notas fiscais em seu pequeno negócio, preenchendo um a um dos campos. Colocando em prática o que havia aprendido, criou um sistema para emissão de notas fiscais o que o despertou para a aplicação da tecnologia no dia-a-dia. “Resolver um problema com o uso de tecnologia me encantou e mudou meu rumo profissional.” Como consequência desta descoberta foi cursar Ciência da Computação e fez o mestrado em Engenharia de Software. Ainda no interior, trabalhou em algumas software houses onde participou do desenvolvimento de sistemas de gestão para diversas áreas.
A vinda para a capital aconteceu por meio do convite da consultoria Cambridge Technology. “Uma das coisas que me empolgou foi o fato de a empresa trabalhar no que então era chamado de A Nova Economia. Era o início da internet e tudo era ainda bem institucional. Tinha muito a ser explorado.” André recebeu o desafio de liderar a prática de Digital para América Latina a partir de Caracas, para onde se mudou. “Tive a oportunidade de participar da criação de portais quando tudo de internet era muito novo e de trabalhar com e-commerce.” De volta ao Brasil, foi para a Agência Click, uma agência de publicidade onde o foco era internet, reunindo então duas de suas paixões: tecnologia e publicidade. Entre os projetos, desenvolveu a primeira loja virtual de O Boticário e outras para a C&A, GM e os e-commerces do IG. Corria o ano 2000 e o passo seguinte foi na Tesla, concorrente da anterior e também focada em tecnologia para internet, onde ocupou o cargo de Head de Tecnologia pilotando projetos como o portal da Vale e o portal e aplicações da plataforma de internet grátis da Embratel, a Click21.
Foi quando André conta que resolveu tornar-se um executivo de TI. “Eu sentia que as empresas ainda não olhavam tanto para a tecnologia como impulsionadora dos negócios”, afirma. A experiência adquirida com WMS – Warehouse Management System, sistema de gerenciamento de armazenamento o levou a FMC, produtora de defensivos agrícolas com sede na Filadélfia, Estados Unidos. Naquele momento, o Brasil estava se transformando na principal subsidiária da empresa e ele assumiu a posição de CIO Latam, sendo o primeiro líder regional a conduzir uma implantação de SAP fora da sede.
André comenta que para ele a tecnologia é uma ferramenta para acelerar o negócio. E afirma que para desenvolver uma boa solução tem que entender do segmento onde se está atuando. Na FMC, desenvolveu um portal de autosserviço para os vendedores e clientes, onde podiam acompanhar seus pedidos e que contribuiu para redução de erros e acuracidade, e lembra que na agricultura o tempo é algo muito importante. “Este portal foi uma solução inédita, a primeiro do tipo em toda a empresa”, destaca.
Em 2008, André foi para o Atacadão, iniciando uma jornada na área de varejo que, de certa forma, ainda que indiretamente, foi retomada agora na Martin Brower, depois de um período como conselheiro de empresas. “No Atacadão eles precisavam resolver um problema de ruptura, falhas no abastecimento que causavam a falta do produto na gôndola”, explica. O sistema de gestão de chão de loja desenvolvido na ocasião acabou tornando-se um software comercializado até hoje para outros varejos e atacarejos. André lembra que o software usava coletores de código de barras da Motorola e foi o primeiro programa do gênero homologado pela fabricante na América Latina.
Antes de retornar ao ramo alimentício, André ocupou o cargo de CIO da Amcor para América Latina, produtora de embalagens pet para empresas como Coca-Cola, Pepsi e Lipton, onde cuidou do BPO e de rotinas de RH. Foi quando a pessoa com quem havia trabalhado no Atacadão assumiu a presidência do grupo Assaí, outro atacadista, e o convidou para ser o CIO. Lá, além de dar suporte para o crescimento, implementou várias inovações, como wi-fi nas lojas, e destaca que aquele foi o primeiro projeto de wi-fi em lojas no varejo de alimentos, e implantou também aquele mesmo software que havia desenvolvido para o Atacadão para reduzir a ruptura e fazer a checagem de preços dos produtos na gôndola. Segundo André, o trabalho antes feito por dez pessoas uma vez por semana passou a ser feito por uma única pessoa diariamente, em menos de uma hora. Ele destaca que o sistema media também o movimento das lojas em cada período, o que foi muito importante para a estratégia da empresa durante a pandemia.
Depois da passagem por mais um atacadista, o Giga, e pela Digibee, integradora, período em que também, com a certificação do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – começou a atuar como conselheiro em algumas empresas, André recebeu o convite da Martin Brower. “Cuidamos da entrega de todos os produtos e até mesmo dos brinquedos do McLanche Feliz, no caso do McDonalds”.
Entre os planos na nova empresa, onde acabava de completar os 100 primeiros dias por ocasião de nosso bate-papo, está o incremento do uso da tecnologia com a potencialização do já existe por meio de projetos como WMS, ampliação do uso de IA na interação e atendimento aos clientes e em processos como abastecimento via definição de rotas, previsão de demanda e entendimento de posição ideal de estoque. E mais, ampliação do uso de dados com a democratização de acesso de forma que as áreas de negócio consigam produzir seus próprios relatórios. Estes são alguns dos destaques. “Vamos extrair o máximo das soluções já implantadas, ajustando o necessário para atender melhor as demandas de cada país da América Latina e impulsionar a operação.”, antecipa André. “Meu papel é obter o máximo valor do que já temos, ajustando soluções às necessidades de cada país da América Latina.” E completa, “liderança é conectar estratégia, potencializar pontos fortes, acelerar melhorias e desenvolver pessoas para garantir uma evolução estruturada e sustentável.”