Novas formas de pagamento, plataforma que gere mais comodidade e personalização são a base para melhorar o atendimento ao paciente
Por Bruno Toldo
A digitalização crescente de vários segmentos da economia também acontece no setor de saúde. A agregação de ferramentas tecnológicas e a digitalização das empresas do setor, além das mudanças de hábitos das pessoas, geradas pelo distanciamento social, têm o potencial de alterar o atendimento aos pacientes e por consequência as modalidades de remuneração pelos serviços de saúde.
Apesar da digitalização do setor de saúde não acompanhar na mesma velocidade o que ocorre em setores como o financeiro, o varejo e o entretenimento. Três fatores ou três P – pagamento, plataforma e personalização – irão impulsionar a necessidade de digitalização, as mudanças no cuidado ao paciente e na forma de se remunerar pelos serviços de saúde.
Saiba como cada um desses três fatores irá mudar o setor de saúde.
Pagamento
Na área da saúde, como em qualquer outra, há uma ligação entre a remuneração e o comportamento. O modelo mais adotado pelas empresas ainda é o fee for service, no qual o pagamento é feito de acordo com a quantidade de procedimentos e recursos usados, com pouca consideração pelo custo ou resultados para o paciente. Dessa forma, ele gera menos retorno nos resultados clínicos ou na saúde populacional como um todo.
Mas isso está mudando em vários países, inclusive no Brasil. As instituições de saúde têm adotado modelos baseados na performance, que têm como foco toda a jornada de saúde do paciente, a qualidade do atendimento prestado pelas empresas e o desfecho clínico. Tudo sem deixar de se preocupar com a sustentabilidade financeira do negócio.
Essas mudanças, no Brasil e no exterior, têm deixado lições sobre o que funciona e o que não funciona. A maioria dos modelos baseados em performance até o momento pagam pelo volume e oferecem bônus pelo cumprimento das metas de custo e qualidade. A próxima geração de modelos de remuneração baseados em desempenho deverá oferecer um risco bilateral – um bônus se a empresa se sair bem, mas uma penalidade se não o fizer, pois, a remuneração considerará o desfecho clínico, independente da quantidade de procedimentos e materiais usados. Esses novos modelos mudarão os comportamentos das instituições de saúde que precisam, como em muitos setores, reduzir custos e melhorar os resultados.
A digitalização dos processos administrativos e a gestão dos dados são essenciais para alcançar esses objetivos. A automação deverá substituir as tarefas manuais demoradas e repetitivas, gerando economia de tempo e redução de custos nas áreas administrativas. As opções de cuidados virtuais irão expandir o acesso à saúde pelas pessoas e aumentar a adoção dos cuidados preventivos e permitir intervenções mais rápidas visando evitar a necessidade de tratamentos mais intensivos e caros.
Plataforma
Todas as empresas do setor de saúde deveriam ter uma plataforma, utilizar a inteligência artificial e ter um modelo de negócio centrado no paciente. Mas, o uso excessivo do termo plataforma o tornou sem sentido. Ter uma plataforma não significa que todos os sistemas devem estar em um único servidor ou em um software baseado em nuvem. Isso é integração e operação.
Uma plataforma seria similar ao que acontece com o setor de delivery de comida onde, por meio de aplicativos, o cliente pode pedir o que quiser, do local onde estiver em uma única plataforma e receber o pedido na sua porta e no prazo. Essas empresas geram valor ao cliente, pois conectam vários produtos em um sistema unificado, o que gera a necessidade de um repositório digital de dados, tanto clínicos como administrativos.
Para as organizações de saúde também é necessário ter uma plataforma focada no que os clientes desejam e precisam. Esse serviço orientado para a comodidade e o bem-estar do paciente forçará as organizações de saúde a digitalizar, interoperar seus dados e oferecer opções de atendimento virtual aos pacientes e seus familiares.
Personalização
Todos nós já experimentamos o terceiro P como clientes. Quando você compra um produto em um e-commerce e, na próxima vez que se logar, receberá anúncios em diferentes formatos como banners ou vídeos, com produtos ou serviços relacionados à última compra. Em cada transação, o cliente deixa para trás uma fração de dados sobre quem é, o que deseja e como se comporta.
As empresas de varejo descobriram isso. As empresas de saúde, respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) podem aprimorar isso. Uma organização de saúde inteligente deve conhecer seu paciente, o que ele deseja, precisa e como se comporta. Essa necessidade existe tanto do ponto de vista do serviço, ou seja, saber se ele prefere consultas presenciais ou virtuais, como do ponto de vista clínico, pois também é preciso conhecer os hábitos de alimentação e de exercícios do paciente, se seu check-up está atrasado e por qual meio de comunicação ele prefere ser lembrado da necessidade de fazer uma consulta: e-mail, whatsapp ou outra forma de contato.
Para capturar essas informações não tradicionais do paciente, as organizações de saúde precisarão elevar seus recursos digitais, integrá-los aos sistemas já existentes, como os Registros Eletrônicos de Saúde e ferramentas de gerenciamento de relacionamento. Ou seja, como as empresas do varejo, as organizações de saúde precisam desenvolver imagens completas e precisas de seus pacientes para ter sucesso na nova economia digital.
As empresas do setor de saúde inteligente levarão a personalização um passo adiante por meio da medicina de precisão, aliando os diagnósticos já disponíveis, como exames e histórico familiar, com os avanços nos testes de diagnóstico genético e molecular. Dessa forma elas poderão desenvolver novas opções de tratamento e planos de cuidados individualizados para cada paciente.
Cada um dos três P exerce um papel importante para o futuro da medicina e a tecnologia é uma ferramenta necessária que irá apoiar gestores e equipe médica na busca do bem-estar do paciente.
*Bruno Toldo, Chief Medical Information Officer na Infor