Empresas precisam ter consciência do seu papel na luta coletiva; capacitação, oportunidades e benefícios corporativos são alguns caminhos
A presença feminina em cargos de alta gestão ainda é um dos principais debates quando se fala em equidade de gênero no mercado de trabalho, especialmente em áreas consideradas, por muito tempo, masculinas. É o caso da Tecnologia da Informação, setor que apresenta somente 24,5% de profissionais mulheres, de acordo com um estudo realizado pela consultoria Bain & Company, em parceria com a Data Hackers — uma porcentagem considerada desigual e longe do ideal.
Para entender um pouco mais como anda esse cenário, a Up Brasil decidiu conversar com algumas mulheres que atuam na área de TI dentro da organização, a fim de saber como anda a percepção delas sobre o mercado.
Apesar de o crescimento de mulheres na área se encaminhar de forma lenta, elas notam mudanças significativas durante os últimos anos, e apontam que a determinação feminina e o entendimento de pertencer ao ambiente também são caminhos para vencer as adversidades. Entretanto, deixam claro que os esforços vindo das empresas precisam ser ainda maiores para enfrentar os desafios do mercado e posicionar cada vez mais lideranças femininas.
“Apesar de trabalhar em uma empresa que oferece espaço para crescermos na área, dando os espaços e condições necessárias para atuarmos em nosso cargos sem qualquer distinção, sabemos que nem todo mercado está assim. Muitas de nós ainda sofrem com preconceitos e desafios. Por isso, é importante que todas as empresas tenham consciência do seu papel nessa luta, que é de todos”, comenta Roseane Lucia , Analista de negócios da Up Brasil.
Para o time de RH da Up, responsável por cuidar desses assuntos dentro da organização, as empresas que desejam alcançar equidade de gênero na área devem pensar em outros fatores além de criar espaços e oportunidades para o gênero feminino. É preciso entender a importância e a total capacidade e competência das mulheres nos cargos, oferecer capacitação e entender as suas questões e necessidades. Assim, elas chegarão cada vez mais longe.
Para Luciana Montuanelli, Diretora de Recursos Humanos da Up, ter uma mulher no TI vai além da sua presença ou de uma quebra de estereótipo. “Além da autoconfiança e motivação, as mulheres têm capacidades que refletem diretamente no dia a dia de trabalho. O olhar mais empático, minucioso e analítico, por exemplo, traz diversas vantagens na construção de novos produtos, soluções e nos processos da experiência do usuário”, completa.
Nessa construção de um mercado de trabalho mais equilibrado, a potencialização das profissionais também é um fator essencial. Com os avanços das tecnologias, é imprescindível que as empresas ofereçam cursos de capacitação, para que consigam ter cada vez mais uma mão de obra feminina qualificada, gerando profissionais de alta qualidade, criando até oportunidades para novos cargos e projetos sem precisar recorrer ao mercado altamente competitivo.
Entender a dupla jornada
Outro ponto importante, quando se trata da presença feminina no mercado de trabalho em geral, é entender a realidade da maioria das mulheres brasileiras. Muitas delas têm uma dupla jornada entre o trabalho e suas casas, onde precisam dar conta também das tarefas domésticas e necessidades da família. Por mais que esse não seja um papel exclusivamente feminino, a cobrança é mais pesada para as mulheres em uma sociedade em desconstrução.
Pensar de forma empática, principalmente sobre essas colaboradoras, contribui para se ter pessoas motivadas, pois a produtividade delas está diretamente ligada ao bem-estar dentro e fora do ambiente de trabalho. Para Luciana Montuanelli, cuidar da família não pode ser impeditivo para que a mulher cresça em sua área de atuação; é mandatório que as empresas entendam que todas elas são competentes desde que recebam o devido apoio e suporte, como foi feito com os homens ao longo das décadas.
“Seja no modelo remoto ou presencial, o trabalho não é a única responsabilidade da adulta chefe de família. Uma solução é oferecer benefícios que vão além dos tradicionais, como flexibilidade de horários, auxílio home office, vale alimentação, cartão de antecipação salarial, entre outros, para ajudá-las no dia a dia. Tudo o que vier economizar tempo, dinheiro e deslocamento deixa o cotidiano mais leve e mostra às colaboradoras que elas têm com quem contar no mundo corporativo em que estão inseridas”, finaliza a Diretora de Recursos Humanos da Up.