Logística com IA
Juliano De Conti, CIO da Total Express, teve seu primeiro contato com a tecnologia por meio de um amigo que nos anos 90 ganhou um computador TK-90X que funcionava ligado a um televisor comum e a um gravador de fita cassete onde “rodavam” os programas. Ele conta que além de jogos, o equipamento tinha um interpretador de linguagem BASIC, muito usada na época. “Dessa forma comecei a dar meus primeiros passos no universo da tecnologia da informação e de programação. Sempre fui muito curioso e interessado em aprender temas novos, portanto esses gatilhos foram fundamentais para trilhar uma carreira na área”.
Ele pensou então em fazer um curso de Informática, mas estes praticamente ainda não existiam na sua cidade, Agudos, no interior de São Paulo. Foi quando teve a ideia de propor ao dono da escola onde havia feito aulas de datilografia a investir em um curso de microinformática. “Apesar de ter sido recebido com estranheza pelo proprietário, com o tempo ele percebeu o potencial da ideia e avançamos com o projeto.” “E foi paixão à primeira vista. Quanto mais ensinava aos novos alunos, mais aprendia e me sentia motivado a buscar novos conhecimentos”, diz Juliano.
E continua: “em pouco tempo, vislumbrei a oportunidade de empreender em meu próprio negócio, em uma época em que palavras como empreendedorismo e startups ainda não faziam parte do nosso cotidiano.” Foi quando criou a DIGITEC, uma das primeiras escolas de microinformática da região. No vestibular, a opção foi pelo curso de Análise de Sistemas e Juliano se dedicava à sua startup durante o dia e fazia faculdade no período noturno. Até que sofreu seu primeiro ataque hacker e todos os computadores da escola que havia criado foram infectados por um vírus, impossibilitando a utilização dos equipamentos por quase um mês.
Depois de muita pesquisa, Juliano conta que encontrou uma empresa no Sul de Minas que havia desenvolvido uma vacina para aquele vírus e ele comprou o software que chegou pelos correios em um disquete de 5 ¼ polegadas. “Toda essa experiência de empreender desde muito cedo me trouxe muita resiliência, adaptabilidade, flexibilidade e, principalmente, o respeito pelas pessoas, características essas que são fundamentais para qualquer executivo de TI superar os desafios que são colocados à prova ao longo da sua carreira.”
Já no início da graduação, Juliano foi estagiar no grupo Philip Morris, divisão da Kraft Lacta Suchard, e com isso veio a difícil decisão de encerrar as atividades da DIGITEC. Ainda no interior, o executivo teve passagens pelas empresas Pillsbury e General Mills. Em seguida, já morando na capital, começou a trabalhar na Avaya, aonde chegou logo após o spin-off com a Lucent Technologies.
Ele comenta que apesar de aprovado na seleção teve que se comprometer em suprir sua deficiência no inglês em um curtíssimo espaço de tempo. E lembra de um chefe colombiano que o ajudou muito nos primeiros momentos. “Quando terminava a reunião, ele me passava em “portunhol” o que havia sido decidido em inglês até que eu passasse a ter o domínio da língua.”
Juliano diz que a operação de tecnologia na época era totalmente descentralizada ao redor do globo. “Embarcamos no maior projeto de governança corporativa de TI da minha carreira, estabelecendo um framework global para as operações de TI envolvendo milhares de pessoas dispersas em diferentes continentes, com diferentes experiências, culturas e contextos de negócio. Este foi um dos projetos com a maior diversidade cultural em que já atuei até hoje.” Em seguida atuou no grupo Seiko Epson Corporation, depois na Simpress, teve uma passagem pelo setor educacional como CIO do grupo Cruzeiro do Sul até chegar à Total Express, onde lidera as áreas de Tecnologia e Inovação.
A Total Express é uma empresa com mais de 30 anos de atuação no mercado de logística, cobrindo 100% do território nacional com capacidade operacional para realizar centenas de milhares de entregas por dia. Quando chegou, há cerca de três anos, Juliano conta que um dos principais desafios da TI era o de melhorar a integração com os clientes, um processo bastante complexo que mapeia todo o ciclo de vida fim-a-fim da entrega de encomendas.
Foi construída então uma plataforma digital que serve como um one-stop-shop para os clientes, congregando as principais funcionalidades de suas operações com a empresa, permitindo o acompanhamento em tempo real tanto para o negócio como para os times de tecnologia, por meio da qual são processadas milhões de encomendas. “Aprimoramos muito a experiência de onboarding dos nossos clientes, e hoje nossas métricas são baseadas em minutos e não mais em dias”.
Segundo Juliano, a empresa sempre foi muito orientada à Tecnologia e Inovação, mas não estavam no nível de maturidade desejado. Hoje, a operação de tecnologia é baseada no formato de squads multidisciplinares orientadas a produtos. “Organizamos a área de TI por meio das verticais de Arquitetura e Engenharia de Software, Sistemas e Aplicações, Data Analytics e Hiperautomação, Engenharia de Integrações e Plataformas, Engenharia Cloud, Operações de TI, Governança Corporativa de TI, PMO, Cibersegurança, Proteção e Privacidade de Dados. E menciona também o hub digital #totaltech que oferece, por meio de um modelo moderno e flexível, inúmeras oportunidades para o desenvolvimento do time, além da possibilidade de atuar em projetos inovadores utilizando as principais tecnologias do mercado.
Sobre o relacionamento da TI com as demais áreas, o executivo diz que embora a Total Express seja uma empresa com excelência operacional em operações logísticas, na essência é uma empesa de tecnologia, que opera de forma totalmente digital e integrada aos clientes. “A TI possui um assento permanente no conselho de administração da companhia, e isso diz muito sobre a participação da área na estratégia da companhia”, afirma. E completa dizendo que o relacionamento com as demais áreas funciona de uma maneira muito próxima e colaborativa, “e esse relacionamento é fundamental para o sucesso da organização”.
Atualmente, o foco da companhia é o aprimoramento da experiência dos clientes através das plataformas e aplicativos digitais. “Estamos avançando e explorando as possibilidades da Inteligência Artificial com casos práticos em andamento como o que levou a um novo modelo de negócio lançado recentemente para operações de comércio eletrônico transfronteira (crossborder).
Neste caso, algoritmos de aprendizado de máquinas e processamento de linguagem natural foram utilizados para a construção de uma plataforma baseada em IA auxiliando na redução da importação de itens com alto potencial de abandono e devolução a origem, reduzindo o custo logístico, com armazenagem em zona alfandegada, frete de retorno e despesas aduaneiras em portos e aeroportos.
Um outro trabalho recente da área de TI foi a construção de um ecossistema de tecnologia para colocar no ar uma nova companhia aérea de cargas, a ANIVIA. “A companhia aérea da Total Express representa um passo importante para cumprir o seu propósito de encurtar distancias e otimizar o serviço de entregas em todo o Brasil.” “Temos um portfólio de projetos bastante robusto, que asseguram o aprimoramento e a evolução das nossas soluções para as verticais de Transportes, Negócios Internacionais, Soluções Customizadas e Logística de Armazenagem.” E Juliano antecipa, sem detalhes, que outras novidades serão anunciadas em breve.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo para todas as plataformas editoriais e participa do Conselho Editorial da Decision Report.