A inteligência artificial (IA) pode ser entendida por captar a inteligência do homem, que teoricamente é mais eficiente que a da máquina e torná-la ainda mais ampla processando uma quantidade enorme de dados. A IA também se caracteriza por um processo chamado machine learning (aprendizado da máquina), que funciona através de um entendimento de padrões que geram sistemas, processos e/ou ações sem precisar necessariamente de intervenção humana. É uma forma de ampliar a capacidade humana de pensamento, agilizar os sistemas de processamento em resolver problemas, prever possibilidades e ser inteligente. Também reconhecido como o próximo passo do Big Data, é uma análise de dados que automatiza o desenvolvimento via algoritmos e padrões. Não há nada de novo, teoricamente, mas com o avanço da tecnologia e processamento, a IA ficou acessível e aderente aos aplicativos de hoje.
Como o tema está em evidência, recentemente o Gartner realizou um estudo e constatou que a maior parte dos programas utilizados em TI terá inteligência artificial para estratégias de produtos até 2020. Olhando para a área fiscal, existem alguns objetivos para seu uso: além de encontrar a melhor combinação que possa gerar baixos custos, as empresas podem utilizá-la de forma estratégica e obter grande poder de processamento para manter o compliance junto ao governo e gerar decisões mais assertivas para não cometer falhas com o Fisco.
Alguns países já utilizam esse tipo de tecnologia para garantir o compliance e cruzar dados fiscais. No Brasil, embora a IA ainda seja pouco utilizada, já possuímos subsídios suficientes que poderiam alimentar essa inteligência, como é o caso da Nota Fiscal Eletrônica e os SPEDs. O governo, que roda um alto volume de informações, poderia utilizar esta tecnologia, uma vez que esses processos já operam há mais de uma década e suas bases de dados estão armazenadas de uma forma estruturada. Ou seja, estes dados estão apenas aguardando uma ferramenta que possibilite extrair o máximo de inteligência delas, o que provavelmente já possa estar acontecendo e o governo iniciando projetos com o uso de tal tecnologia.
Com o seu aperfeiçoamento, essa tecnologia será uma grande aliada do governo, já que possibilitará o cruzamento minucioso de informações entregues ao Fisco, permitindo encontrar padrões e criar melhores políticas anticorrupção, além de evitar fraudes que ainda hoje são corriqueiras em nossos sistemas. Note que esta ciência não é apenas uma matemática exata do Fisco, mas uma estratégia de uso de funções para entender tendências e descobrir manobras que não necessariamente estariam claras em cruzamentos simples de bancos de dados.
Do lado das empresas, a ciência permite que a IA possa ser utilizada na área fiscal e com ela usufruir de um melhor cruzamento de dados, que além de estabelecer padrões, possibilitará a análise simples de informações. Por exemplo, uma empresa que vende óculos poderia utilizar um sistema com base em distintas variáveis do negócio e identificar padrões que possam definir em qual centro de distribuição seria mais favorável ter um estoque maior de um determinado tipo de produto ou parte dele. O cruzamento de informações poderia utilizar os cálculos de impostos para sua otimização inicial e incluir padrões de compra e venda, variáveis de tempo (sazonalidade) e o monitoramento de mudanças de leis que acontecem periodicamente. A tecnologia permite manter este estudo em tempo real, com informações que mudam também dessa forma.
Com a velocidade das máquinas hoje em dia, a possibilidade de fazer combinações de forma mais rápida que o cérebro humano já é uma realidade. Se levarmos em consideração todas as regras fiscais e tributárias existentes hoje em nosso país, se aplicarmos a inteligência artificial em uma automação fiscal, principalmente se esta operar na nuvem, permitiria analisar informações e estabelecer padrões quase que em tempo real, mostrando qual o melhor caminho a seguir, além de garantir às empresas mais segurança e agilidade em seus processos, melhorando assim sua capacidade de análise de dados.
Nos próximos anos, sem dúvida alguma a IA beneficiará o mundo fiscal com velocidade e automação, identificando padrões e habilitando a tomada de decisões mais inteligentes.
*Rodrigo Zerlotti é Gerente Geral da Avalara América Latina.