Durante a conferência Gartner CIO & IT Executive 2025, o analista do Gartner Hung LeHong destacou um dos maiores dilemas das empresas em relação à inteligência artificial, que envolve como transformar projetos em resultados práticos. Segundo ele, a dificuldade está em convencer o board e o CEO das aplicações e usos da ferramenta, já que nem sempre ganhos de tempo se convertem em valor para o negócio.
“Tempo economizado não é dinheiro economizado”, afirmou LeHong. O especialista reforça que para clareza de qual retorno se espera da tecnologia é preciso alinhar a estratégia a esse objetivo, seja financeiro, para a operação ou para o futuro da organização. Isso implica mudanças profundas, como redesenho de processos, reorganização de equipes e até reposicionamento da força de trabalho.
De acordo com a pesquisa do Gartner com CFOs, 74% afirmam que o maior valor da IA está na economia de dinheiro, enquanto apenas 6% enxergam a tecnologia apenas como uma economia de tempo. O dado reforça a visão do especialista de que produtividade, sozinha, é um benefício de “baixa qualidade” e que só se transforma em valor com reestruturação empresarial.
Casos de uso da IA
Para orientar as organizações, LeHong apresentou três grandes casos de uso da IA, traduzidos pela Gartner como retorno no colaborador (ROE – Return on Employee), retorno no investimento (ROI- Return on Investment) e retorno no futuro (ROF- Return on Future).
O primeiro caso foca no uso defensivo. Ou seja, otimizar operações e dar suporte ao colaborador, como no uso de copilotos digitais. Gera mais tempo e satisfação, mas sem retorno financeiro direto. Já o retorno em investimentos é extensivo e está direcionado à redução de custos ou aumento de receita, como em detecção de fraudes ou precificação mais competitiva. Neste caso o retorno é mais fácil de ser mensurável. E o uso disruptivo, que é o caso do retorno para o futuro, está voltado para inovação e criação de novos modelos de negócio, ainda que arriscados, como as plataformas automatizadas de investimento.
Mudança estrutural como pré-requisito
Extrair valor da IA não é apenas uma questão tecnológica. Segundo os dados da pesquisa, para capturar benefícios, empresas precisam redesenhar processos, reorganizar equipes, renegociar contratos de outsourcing e até reposicionar talentos. O impacto na força de trabalho é que os efeitos vão de recalibração de funções e restrição de contratações até reposicionamento de profissionais ou redução de headcount. O Gartner ressalta ainda que projetos de IA podem exigir até 200% mais esforço de gestão de mudança em comparação a implantações de ERP.
Para LeHong, a adoção de IA só fará sentido quando estiver atrelada a uma estratégia clara de valor. “Não basta adotar IA pela moda. É preciso decidir que tipo de retorno se quer gerar e estar disposto a transformar a organização para isso acontecer”, reforçou.


