Papel, celulose e sustentabilidade
Gustavo Vieira, Global Chief Information Officer da CMPC, empresa chilena que atua na área de papel e celulose desde a plantação até produtos finais de consumo como papel higiênico, papel toalha, lenços umedecidos, entre outros, chegou à companhia com sede em Santiago em meados de 2023 trazendo uma grande experiência internacional, parte do requisito da empresa na escolha de um novo CIO. Ele viveu três anos na China, inclusive no período da pandemia, como head da área de Operações da Vale, setor responsável pelo processamento e entrega do minério de ferro extraído no Brasil. De seus 30 anos de carreira, 23 foram na Vale.
Gustavo é mineiro e começou sua trajetória em TI na Usiminas. De lá foi para a Bahia Sul, empresa de celulose que na ocasião pertencia à Vale e que hoje é parte da Suzano. Foi quando recebeu o convite para ir para a Vale, que buscava um profissional de TI com experiência tanto na área industrial quanto em SAP, cargo que tinha a cara dele. Um detalhe, tão logo chegou à companhia, a Vale resolveu migrar seu sistema de gestão para Oracle.
Ele conta que na ocasião a TI da empresa tinha muito foco no back office e para crescer sentiam a necessidade de sistemas industrias que embasassem o novo momento. “Visitei todas as operações da Vale no mundo. Cresci dentro da companhia.” Para Gustavo, os profissionais que se fixam apenas na tecnologia acabam ficando para trás. “Passei por diversas funções dentro da empresa até chegar a CIO Global.”
Foi quando em 2019 a companhia passou por um movimento de estímulo ao job rotation e ele foi convidado para assumir a Operação de minério de ferro que estava começando na China, que é o maior mercado da Vale. Gustavo conta que o objetivo era entender e eliminar gargalos que havia no Brasil e gerenciar o processamento do minério na China e a entrega até chegar na ponta, no cliente, no caso as siderurgias. Ele diz que naquela altura muitas compravam dos concorrentes. No meio do caminho, uma pandemia, o que acrescentou alguns quesitos a mais ao desafio que por si só já era bem grande.
Gustavo conta que sempre gostou da tecnologia aplicada ao core da empresa e com a oportunidade de atuar em Operações aprendeu muito e trouxe para dentro da área de TI a disciplina de Operações, como a otimização e estabilização de processos. “Foi a tecnologia trazendo, efetivamente, maior valor para o negócio”, destaca. E acrescenta que, por outro lado, levou muito da automação para a operação. “Tudo isso me ajudou a ser um profissional reconhecido pela disciplina operacional.”
O executivo diz que foi muito bem recebido na China e destaca na cultura chinesa a disciplina, ser altamente digital com fomento à inovação e orientada a procedimentos. “É uma cultura bem mais simples que a ocidental e bem mais objetiva, muito voltada ao crescimento. E tudo o que é negociado é executado”, afirma. Por outro lado, ele diz que é uma cultura também de muita subserviência ao governo e acrescenta que para as empresas estrangeiras é interessante ter pessoas expatriadas, o que forma um mix interessante.
No final de 2022, Gustavo voltou ao Brasil para as festas de final de ano quando surgiu o convite da chilena CMPC. A empresa foi criada por um grupo familiar e nos últimos anos vive um processo de transformação cultural. A companhia cresceu por meio de fusões e aquisições e hoje atua em 11 países entre América do Sul e Estados Unidos, possui 24 mil colaboradores, faturamento na casa de US$ 10 bilhões e tem planos de dobrar de tamanho até 2030. “A empresa acredita muito no poder da tecnologia e queria alguém com esta visão”, diz Gustavo.
Atualmente, segundo o executivo, a equipe de TI está focada na implementação do SAP nas empresas adquiridas, passando por uma uniformização dos sistemas. Projetos de competitividade via indústria 4.0 representam outro dos focos, assim como o que ele chamou de Manutenção do Futuro, que prevê um planejamento das unidades para reduzir os custos industriais e que envolve sensoriamento remoto, centralização da sala de controle e ainda a digitalização das plantas industriais visando, também, a redução de riscos.
Outra frente em curso atualmente é a estruturação de uma governança de dados para a tomada de decisão. Ele conta que juntamente com o Google a empresa treinou mais de 100 pessoas para atuarem como cientistas de dados. E outro tópico na linha das prioridades de Gustavo é a cybersegurança. Ele diz que quando chegou à CMPC sentiu um ambiente muito estável mas com muito foco no operacional, e que um de seus trabalhos tem sido no sentido de uma mudança no mind set. Destacou o cuidado da empresa com as pessoas e com sustentabilidade, tendo sido avaliada como a melhor companhia no segmento de Papel e Celulose no que diz respeito à esta questão.
“Vejo cada vez mais que a tecnologia é um diferencial para as empresas e os profissionais devem ter esta preocupação de levar a tecnologia para aquilo que é o core da companhia. O poder de uma agenda mais estratégica para a área está nas nossas mãos”, destaca.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo para todas as plataformas editoriais e participa do Conselho Editorial da Decision Report.