De Enfermeira à CIO da Saúde
Depois de onze anos à frente da TI da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, onde foi responsável pela completa transformação digital do hospital, Lilian Hoffmann é a nova Diretora de TI do Hospital Care, uma holding administradora de serviços de saúde que propõe um modelo diferenciado de gestão integrada envolvendo médicos, pacientes, hospitais, parceiros e acionistas. São nove hospitais, além de clínicas e ambulatórios, num total de 21 unidades distribuídas entre Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto, Curitiba e cidades de Santa Catarina, tendo como principal investidor a Crescera Capital. Antes da BP, Lilian foi responsável pela TI do Hospital São Luiz, que passou a integrar a Rede D’Or, e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Após um trabalho realizado como consultora, Lilian foi chamada para assumir o que chama de novo ciclo digital do grupo Hospital Care. “Diferente da BP e das demais instituições por onde passei, onde quando cheguei o nível de digitalização era zero, agora chego à uma empresa que já está digitalizada mas que precisa de uma remodelagem por ser fruto de uma série de fusões e aquisições de hospitais, cada qual com sua própria estrutura.” Ela explica que seu desafio é criar uma padronização gerando maior eficiência com a utilização de escala e eliminação do desperdício. “É um desafio diferente dos que vivi até hoje.”
Lilian acrescenta que tem muito o que trabalhar em termos de gestão de mudança, comunicação e tudo mais para trazer as pessoas para esta transformação mostrando, inclusive, as possibilidades de crescimento de carreira com este processo. E conta que foi criado um grupo multidisciplinar, que inclui funcionários de todas as unidades, que está construindo todo o processo, do levantamento das dores em comum ao roteiro a ser seguido, incluindo a escolha das ferramentas a serem utilizadas.
“Minha vinda pra cá acontece dentro desta proposta de criar um Plano Diretor de Tecnologia que permita que a empresa integre seus ativos, otimize sua infraestrutura e que tenha padrões que possam ser aplicados em todas as unidades.” Lilian diz que o Hospital Care já tem arraigado o uso de dados, “e agora estamos buscando como ser mais eficientes com esta prática. A ideia é irmos para um player único de prontuário eletrônico e de ERP que nos atenda criando uma base única de pacientes que possa ser acessada em qualquer um dos hubs”, completa.
Hoje, os dois sistemas de gestão conjugados ao prontuário eletrônico utilizados no front office são os da Philips e da MV Sistemas e no back office funciona o SAP. Segundo Lilian, esta unificação deve acontecer no prazo de três anos. Neste meio tempo, a TI do Hospital Care funciona no modelo bimodal de forma a garantir a sustentação do que existe hoje e as transformações rumo ao “novo ciclo digital” padronizando processos médicos e de enfermagem.
O caminho prevê, também, a implementação de cloud. E entre os grandes objetivos estão ferramentas de apoio à decisão para o corpo clínico, processos mais sustentáveis reduzindo a replicação e a melhoria da experiência do usuário interno com a equidade dos sistemas em todas as unidades, tornando a jornada dos profissionais mais fluida, modificando também a jornada do paciente. “Meu desafio é criar um modelo para algo que está acontecendo muito na Saúde que são as fusões e aquisições”, conclui.
E a história da Lilian chegando à sua trajetória na área de Saúde é bastante curiosa. Por gostar de matemática, ela imaginava cursar Engenharia mas um revés na família depois de um assalto a conduziu a pensar numa universidade pública como principal opção. Achou que seria difícil entrar na Escola Politécnica da USP e acabou optando por Enfermagem, que exigia uma pontuação menor, apesar de no fim das contas ter obtido a nota que garantiria sua entrada na Engenharia. Mas ao começar a cursar Enfermagem, Lilian conta que gostou.
Já no terceiro ano conseguiu uma vaga como estagiária de enfermagem do Hospital Oswaldo Cruz para trabalhar nos finais de semana. A instituição, na época, estava implementando um sistema para a área de enfermagem e depois de cumprir suas obrigações, Lilian, interessada naquela inovação, ficava na frente do computador querendo aprender, o que chamou a atenção de sua gestora que depois de se certificar que ela cumpria seu dever junto aos pacientes perguntou se ela gostaria de trabalhar no Centro de Processamento de Dados. Segundo Lilian, tratava-se de uma profissional incrível que chefiava a enfermagem e que na ocasião disse uma coisa que Lilian guarda até hoje: o dado deve nascer em quem tem e entende a informação, caso contrário ele pode sair errado. “E assim virei enfermeira do CPD e nunca mais saí de lá, fiquei por 22 anos. Tive a felicidade de ter um gestor que enxergou isso e me permitiu juntar as minhas duas paixões.”
No Oswaldo Cruz, Lilian destaca como um dos grandes projetos a descentralização, que colocou o computador na mão das pessoas, entregando para as áreas o uso da tecnologia. Na Rede D’Or, Lilian menciona a implementação do prontuário eletrônico como auge. E na Beneficência Portuguesa, Lilian conta que em 2013 a BP estava atrasada e ainda era totalmente papel. Foi quando foi feito todo o processo de digitalização a ponto de em cerca de dez anos se tornar um dos hospitais mais digitalizados do País com certificado HIMSS 7, da Healthcare Information and Management System Society, que avalia a adoção do modelo de prontuário digital para uma melhor assistência em saúde.
Esta é a trajetória de Lilian Hoffmann, seguramente um das profissionais que mais entende o universo da TI na Saúde e que mais tem contribuído para a transformação digital nos principais hospitais de São Paulo e do País.


