Estreia dupla
A história de Leandro com a TI começou bem jovem, já nos primeiros contatos com computador por meio de jogos, quando se interessou por programas como planilhas, power point, entre outros, o que o levou aos cursos técnicos de Eletroeletrônica e de Processamento de Dados em Campinas, São Paulo, onde nasceu. Mais tarde, já na faculdade de Administração, as boas notas na matéria de TI chamaram a atenção de sua professora que o convidou para uma vaga no CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em TI, onde começou de fato sua carreira. “Aprendi muito, pude me formar ali.”
Leandro diz que a pós-graduação em Gestão Estratégica em Tecnologia e Sistemas da Informação o fez adquirir um olhar de negócio aplicado a tecnologia. Veio para São Paulo onde trabalhou por 13 anos na DXC, chegando à liderança de equipes de sustentação e projetos de um grande cliente. Ele conta que juntando a experiência adquirida até então com a pós que havia feito descobriu que essa visão integrada era o seu viés e o seu diferencial no mercado, a visão de negócio aplicada à TI. Um novo curso, um MBA em Gestão de Negócio, reforçou essa intenção. Em Santos, para onde mudou-se com a família, atuou como consultor na gestão de projetos da Femsa, multinacional que é a maior engarrafadora Coca-Cola em todo o mundo, e foi coordenador de TI na Samsonite, fabricante de malas e mochilas.
Mas foi na Mercosul-Line, empresa de cabotagem, a navegação costeira, onde aconteceu sua estreia no setor marítmo e como gestor de Transformação Digital. Leandro conta que foi um dos momentos mais desafiadores da sua carreira, “um divisor de águas”, como diz, porque além de ser um setor novo, havia a percepção entre os funcionários de que a transformação digital levaria à uma onda de demissões. “Minha estratégia foi mostrar que a automação de processos não significava cortes, mas sim libertar as pessoas de tarefas repetitivas para que pudessem se dedicar a atividades mais estratégicas.” E admite que no começo houve resistência, mas que com a agilização dos processos e atuação mais focadas em dados a aceitação começou a ganhar fôlego.
Já nesta época, Leandro adotou IA em alguns processos. Ele divide o uso de inteligência artificial em dois aspectos: objetivos estratégicos e objetivos técnicos. No primeiro, Leandro inclui aumento de eficiência operacional, apoiar decisões por meio de base de dados de qualidade, inovar modelo de negócio e redução de custo. Já nos aspectos técnicos, destaca o uso de machine learning e OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres), especialmente útil na padronização de documentos recebidos em múltiplos formatos, muitos deles como imagem, facilitando a integração com os sistemas da empresa.
Nos passos seguintes, Leandro foi coordenador de TI na Nita Alimentos, onde obteve uma redução nos gastos com infraestrutura na área de cloud. Em seguida, na Bandeirantes-Deicmar, empresa de terminais containers, concluiu o projeto de implementação de um sistema em conformidade com a normativa da Receita Federal (API-Recintos) que exige o registro de todas as movimentações dos contêineres e dos acessos de pessoas aos terminais. Lá também automatizou o processo de entrada e saída de caminhões do terminal dando maior velocidade e gerando ganhos de produtividade.
Desde 2024, Leandro lidera a área de TI na Norcoast, empresa de cabotagem que marca a entrada da alemã Hapag-Lloyd no mercado brasileiro. No início da operação, deparou-se com um backlog de 150 solicitações, que conseguiu reduzir para 20. “Busquei entender os sistemas mais críticos, apaguei os incêndios mais urgentes e então fui à raiz dos problemas, para evitar novo acúmulo.” O desafio veio num momento de forte crescimento: com uma movimentação de 70 mil contêineres por ano a meta da Norcoast é dobrar o faturamento, atingindo R$ 1 bilhão ainda em 2025. Hoje, com a operação mais estabilizada, Leandro foca na evolução dos sistemas, com prioridade em rastreabilidade de produtos, cibersegurança e na criação de uma base de dados robusta e de alta qualidade especialmente voltada ao atendimento ao cliente. “Já temos um BI estruturado com analytics para a tomada de decisão.”
Para Leandro, a principal limitação enfrentada pelas organizações na adoção de soluções baseadas em Inteligência Artificial está na baixa qualidade e governança dos dados. “É neste ponto que as empresas mais enfrentam gargalos estruturais”, afirma. Ele destaca que, para viabilizar iniciativas de IA com impacto real é fundamental dispor de um ecossistema de dados robusto, com informações limpas, normatizadas, integradas em um data lake ou data warehouse estruturado, e submetidas a uma política sólida de governança de dados. “Além disso, é essencial garantir interoperabilidade semântica entre as áreas, ou seja, que todos operem com uma linguagem de dados comum e bem definida. Somente com essa base é possível escalar projetos de IA de forma segura, sustentável e orientada a resultado”, defende.


