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Entrevista com Fábio Correa Xavier, Diretor de Tecnologia do TCE – SP

Entrevista com Fábio Correa Xavier, Diretor de Tecnologia do TCE – SP

Estreamos a nova Bastidores da TI, agora aqui no portal Decision Report, com uma entrevista muito especial com o CIO do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e semifinalista do prêmio Jabuti de 2024 na recém-criada categoria Negócios – Não Ficção com seu livro CIO 5.0, Fábio Correa Xavier. Há mais de 21 anos atuando no Tribunal de Contas de São Paulo, Fábio fez parte da primeira equipe de TI do TCE, criada em 2002, e ajudou a elaborar e agora lidera o processo de transformação digital do órgão que foi um dos pioneiros a utilizar Inteligência Artificial e hoje já compartilha este conhecimento com outras instituições como a Defensoria e o Ministério Público de São Paulo. Fábio é também coordenador de graduação de cursos de TI na XP Educação e na Faculdade Descomplica. E depois do CIO 5.0, Fábio lançou, dias antes de nossa conversa, um novo livro, “Mapa da Liderança”. Saiba mais sobre a trajetória de Fábio Xavier e sobre os planos de TI do TCE na nova Bastidores das TI. Seja muito bem-vindo

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De olho nas contas públicas

 

O interesse por tecnologia surgiu quando Fábio Correa Soares era tenente do Exército e foi cursar a Faculdade de Tecnologia, assumindo posteriormente a chefia da seção de TI do CPOR/CMBH em Belo Horizonte, Minas Gerais, sua terra natal. A mudança para São Paulo veio ao passar em um concurso da Caixa Econômica Federal, o primeiro realizado pelo banco para a área de TI, onde ingressou como administrador de rede. Fábio fez mestrado em Ciência da Computação da Universidade de São Paulo e foi também no primeiro concurso para a área de TI realizado pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em 2003, que entrou para trabalhar no TCE.

 

Ele explica que o Tribunal de Contas do Estado é responsável pela fiscalização do uso do dinheiro público do Estado, das prefeituras e câmaras municipais e todas as instituições públicas municipais e estaduais que estão sob a jurisdição do TCE. E conta que, na época, o departamento de TI foi composto por 16 profissionais. Hoje são 60 concursados e cerca de 40 terceirizados. Entrou na instituição em 2003 como Auditor de Contratos Externos. Em 2012, assumiu a chefia da área de Segurança da Informação e em 2015 Fábio passou a responder pela direção técnica de sistemas do TCE São Paulo. Dois anos depois, em 2017, passou a CIO, respondendo para o presidente do Órgão. Apesar da presidência do Tribunal ser um cargo com mandato de apenas um ano, Fábio explica que a instituição tem uma política de manter os cargos de direção para dar continuidade aos trabalhos dentro do planejamento estratégico institucional e de TI desenhado para o período de cinco anos.

 

Perguntei como era a TI no ano de sua entrada no TCE, em 2003, e ele conta que tudo era feito tendo como base o papel. “Os equipamentos usados como servidores de rede naquela época eram microcomputadores mais potentes alocados para atuarem como servidor em uma rede cheia de hubs com equipamentos lentos, assim como a internet. Isso foi o que encontramos quando chegamos”. Um dos marcos destacado por Fábio no processo de transformação digital do Tribunal ao longo dos mais de 21 anos em que atua na instituição foi a contratação de uma sala-cofre, em 2008, levando a uma estrutura totalmente redundante, “padrão de qualquer datacenter no mundo”, completa.

 

Quando entrou no TCE, Fábio lembra que eram utilizados soluções caseiras, como planilhas e aplicações em Microsoft Access. Tudo mudou quando foi feita a implantação do Audesp – Sistema de Auditoria Eletrônica do Estado de São Paulo, desenvolvido internamente pela área de TI e que permite a prestação de contas online por parte de 3.200 órgãos jurisdicionados, que envolve municípios e outros órgãos estaduais que têm que prestar conta ao Tribunal, enviando seus dados para serem analisados com acompanhamento em tempo real de indicadores financeiros, de pessoal e licitações. “Antes tudo era analisado em papel, imagina a complexidade do processo”, comenta.

 

“Hoje, os dados são cruzados gerando muito mais efetividade na fiscalização da gestão municipal”, afirma.  Ele diz ainda que antigamente a verificação era “muito legalista”, ou seja, cumpriu a lei estava ok, e hoje é muito mais detalhista não se tratando apenas de seguir a lei, mas seguir a lei e gerar um resultado para a sociedade. E destaca o IEGM– Índice de Efetividade da Gestão Municipal, que considera a efetividade da gestão municipal. “E o Tribunal tem um peso muito grande na avaliação das informações podendo, inclusive, tornar determinada gestor inelegível”, explica. Apesar de apenas gestores públicos terem acesso ao sistema em si, qualquer cidadão pode consultar as informações sobre a aplicação do dinheiro público no Portal da Transparência do TCE.

 

Nos últimos dois anos, desde 2023, o Tribunal vem trabalhando com uso de inteligência artificial generativa por meio de uma solução desenvolvida internamente que é a ANIA – Assistente Natural com Inteligência Artificial, uma plataforma de análise de documentos, dados e processos com o uso de IA onde o usuário dialoga com o sistema podendo, por exemplo, solicitar um resumo dos dados, um resumo detalhado do documento que está sendo analisado ou um resumo incluindo contratos e seus respectivos valores. Segundo Fábio, o TCE foi um dos órgãos pioneiros no uso de IA no Brasil e colocou este sistema dentro do SEI – Sistema Eletrônico de Informações, utilizado por diversos órgãos públicos. “Temos inclusive exportado nossa solução para diversos órgãos públicos como a Defensoria Pública de São Paulo, o Ministério Público de São Paulo e secretarias de estado.”

 

Em termos de resultados, o CIO do TCE destaca que os novos sistemas evitam o desperdício de dinheiro público à medida que qualquer cidadão pode denunciar um edital em andamento onde acredite que haja alguma irregularidade mediante pedido de exame prévio e o Tribunal irá analisar antes do edital ir adiante. “A análise que fazemos hoje é concomitante, ou seja, ela ocorre durante a execução orçamentária do ano de forma que, por exemplo, o prefeito que receba um alerta tem chance de corrigir o problema antes de acabar o ano, evitando irregularidades futuras.

 

Os projetos para 2025 envolvem novos sistemas utilizando inteligência artificial, migração para nuvem pública e segurança da informação. Fábio adianta que ainda este ano dois novos módulos serão implementados na ANIA, um para tratar de jurisprudências no Tribunal e outro para analisar contratos. E mais, o Audesp vai passar a captar informações do Terceiro Setor a partir de dados de repasses públicos para entidades não governamentais. O sistema vai verificar se o trabalho está sendo bem feito e se as metas estão sendo cumpridas. O uso de inteligência artificial nos chamados processos finalísticos, aqueles diretamente relacionadas à atividade-fim do Tribunal, também estão entre os planos para o próximo ano.

 

Hoje todos os sistemas do TCE já rodam em uma nuvem privada e o estudo que está sendo feito vai definir que aplicações devem migrar para uma nuvem pública. “A ideia é que passemos a usar cloud nos próximos anos visando uma melhor utilização de recursos, redução de custos e maior capacidade de elasticidade”, diz Fábio. No que diz respeito à segurança da informação, Fábio reforça que o objetivo é manter o ambiente computacional funcionando livre de incidentes e afirma que o TCE nunca teve qualquer indisponibilidade por incidente.

 

Quanto à sua atividade como escritor, Fábio conta que o livro “CIO 5.0”, semifinalista do mais importante prêmio da literatura brasileira que é o Jabuti, mostra sua experiência como CIO, o que ele apendeu e viveu, assim como o que captou de trocas com outros CIOs. “A ideia foi apresentar boas práticas para que nós, como CIOs, possamos realmente liderar a transformação digital e não ficar como observador, assumindo as rédeas e levando as organizações ao seu melhor desempenho por meio da tecnologia.” E diz ainda que a indicação ao Jabuti foi uma surpresa, principalmente por se tratar de uma categoria nova que é a de Negócios.

 

Em seu livro mais recente, “O Mapa da Liderança”, lançado poucos dias antes da nossa conversa, em novembro, Fábio mostra, também a partir de sua experiência, o que ele considera importante que um líder desenvolva para que tenha capacidade para liderar e inspirar suas equipes, focando em características como integridade, delegação com responsabilidade, empatia, entendimento da equipe, incentivo ao autoaperfeiçoamento e a liderança pelo exemplo. “Você deve fazer o que você fala para manter a sua equipe engajada e motivada”, reforça.

 

Encerrando nosso papo, destacou sua visão de uma TI cada vez mais estratégica para os negócios, e não a TI pela TI. “A tecnologia está aqui para apoiar o papel das instituições e no nosso caso não é diferente. Temos que oferecer a melhor solução para que o TCE possa exercer o seu papel”, conclui.

 

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