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Entrevista com Ageu Pedro Jr., Diretor Tech e Produtos Digitais da Leroy Merlin

Entrevista com Ageu Pedro Jr., Diretor Tech e Produtos Digitais da Leroy Merlin

Para escrever esta edição da Bastidores da TI eu conversei com Ageu Pedro Jr., diretor Tech e Produtos Digitais da Leroy Merlin, que contou passagens muito interessantes que marcaram o início de seu interesse por TI como quando aos 9 anos, com o TK-3000 ligado à TV e a um gravador cassete, construiu um programa para que a mãe achasse mais facilmente suas receitas. Ageu fala de seu entusiasmo pelo varejo e dos projetos que lidera hoje na Leroy, alguns já fazendo uso de IA como o que “traduz” a lista de compras escrita à mão pelo empreiteiro ou mestre de obra. Conheça as histórias de Ageu. Boa leitura!

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“O bichinho do varejo me picou”

 

Sabe aquela lista de compra que você recebe quando está fazendo alguma obra, normalmente escrita em letra de mão e incompreensível até mesmo para o vendedor da loja de material de construção? Quem já passou por esta situação sabe o quanto isso é comum. Para resolver este problema, a equipe de tecnologia da Leroy Merlin desenvolveu um sistema usando inteligência artificial generativa e OCR, reconhecimento ótico de caracteres, para interpretar o que está escrito e elaborar o orçamento. E a lista pode, inclusive, ser enviada pelo cliente por foto via whats app. “Queremos eliminar dores com o uso de inteligência artificial”, afirma Ageu Pedro Jr., diretor de Tech e Produtos Digitais.

 

Empresa francesa da área de produtos e serviços para construção, decoração, jardinagem e bricolagem, a Leroy Merlin está presente em 12 países e no Brasil desde 1998 com 45 lojas físicas. Ageu explica que o olhar sobre IA na Leroy, que hoje tem uma divisão voltada à esta tecnologia, tem duas vertentes: uma interna, do uso para melhoria dos processos do dia-a-dia como análise de contrato, abastecimento de lojas considerando o perfil do cliente de cada região etc… e o chamado “olhar externo” visando o vendedor no atendimento às necessidades do cliente e, claro, o próprio consumidor. Nesta perspectiva, Ageu explica que para a instalação de um vaso sanitário, por exemplo, a IA hoje orienta o vendedor sobre todos os componentes necessários para que o cliente saia da loja com tudo que ele precisa. O mesmo, por exemplo, para aquele cliente que vai pintar a casa e o sistema aponta da tinta à fita que vai prender o forro para proteger o chão.

 

Ageu conta que a TI da Leroy Merlin do Brasil está num momento especialmente desafiador de atualização tecnológica que passa pelo upgrade para o SAP S/4 Hana, dentro de um processo rumo ao aumento de produtividade, eliminando programas que foram desenvolvidos fora do ERP, como agregados, e que agora farão parte do sistema central. “Este é um projeto que deve levar cerca de dois anos e estamos mobilizando praticamente toda a companhia em uma revisão de todos os processos da empresa”, explica. “E eu diria que é como trocar uma turbina com avião em pleno vôo, principalmente considerando o dinamismo do varejo.” O Brasil é o primeiro país onde a Leroy atua a fazer esta migração do ERP e Ageu destaca que ao mesmo tempo em que isso acontece ele deve estar de olho no que está sendo feito globalmente pelo grupo e que pode ser aplicado no País.

 

E lembra que quando criança ele, filho temporão, por diversas vezes presenciou conversas de suas duas irmãs mais velhas sobre a escolha da profissão. “E ouvindo eu pensava em como eu estaria quando chegasse a minha vez.” Bem novo, pediu ao pai um computador no lugar do videogame que vários amigos possuíam entendendo que poderia fazer mais coisas além de jogos. E de fato fez e continua fazendo a partir daquele TK 3000 ligado a uma TV e a um gravador de fita cassete onde rodavam os programas. Em cima da padaria perto de sua casa, em São Bernardo, nos arredores da capital paulista, um professor ensinava microinformática. “Lá aprendi linguagem de programação e como conversar com o computador para que ele fizesse coisas para mim. E isso me deixou maravilhado”, conta.

 

Nesta época, aos 9 anos, Ageu deparou-se com o caderno de receitas da mãe que ela consultava frequentemente e resolveu escrever um programa para ajudá-la. “Ela adorou pois além de tudo não teria mais que escrever as receitas à mão porque às vezes tinha dificuldade de entender a própria letra. E foi aí que pensei: se posso ajudá-la a fazer isso, posso ajudar o dia-a-dia das pessoas.” Ageu diz que isso é o que o fascina na tecnologia, em quanto ela é capaz de transformar a vida das pessoas e mover o ponteiro dos negócios. “E este é o mote que utilizo até hoje com a minha equipe. Gosto de falar das dores do negócio.” E acrescenta que um dos motivos da admiração que a área de TI tem na Leroy é o fato dele ser capaz de participar de uma reunião com a área de negócios sem falar nenhum termo técnico. “Que tecnologia eu vou usar, eu discuto depois com a minha área.”

 

Ele conta que sempre gostou de conversar sobre tecnologia com um vizinho que trabalhava na IBM e que o convidou para visitar a empresa. “Fiquei encantando e disse para minha mãe: um dia quero trabalhar aqui.” Foi o que o levou à Escola Técnica e por indicação do vizinho entrou na IBM no último ano do curso de Processamento de Dados na Universidade Mackenzie. Naquela época, já era usuário de BBS, “graças ao Aleksandar Carlos Mandic”, e foi então admitido no grupo responsável por implementar e suportar o acesso à internet para empresas e para alguns usuários especiais para os quais a IBM provia este serviço. “E um destes usuários era o Jô Soares e eu era responsável pelo contato com ele. Nos falávamos com muita frequência”, lembra. Lá trabalhou por cinco anos, chegando a gerente de projetos da área de sistemas.

 

Na BRQ, seu próximo emprego, foi responsável por um projeto internacional de e-commerce para uma loja de móveis e objetos de decoração desenvolvido em parceria com uma software house americana, o que levou a ficar parte do tempo em Nova York. “Eu tinha que entender o escopo do negócio e especificar para a fábrica de software de lá.”

 

Mudando do lado da mesa, passando de fornecedor para cliente, no Pão de Açúcar Ageu trabalhou a tecnologia em setores tão diversos quanto comercial, logística, financeiro… “Tive uma grande oportunidade de caminhar dentro da empresa em suas diversas áreas. Nesta ocasião, fez um curso de marketing de serviços na Escola Superior de Propaganda e Marketing onde conta que aprendeu como descobrir desejos de seus “clientes” que eles nem sabiam que tinham até então. “E isso levou à uma virada em minha vida profissional.” Foi quando além da paixão por tecnologia descobri a paixão pelo mundo do varejo e seu dinamismo. Ali o bichinho do varejo me picou de fato. É onde me sinto realizado.”

 

Depois de quase dois anos no grupo e com objetivo de passar a ocupar a cadeira de head de TI, Ageu foi para o Carrefour, a convite do Ney Santos, com quem havia trabalhado no Pão de Açúcar. Realizou o curso de formação de CIOs e a seguir, “mais uma vez com a participação do Ney”, Ageu foi para a Via Varejo, que reunia Casas Bahia, Ponto Frio e Extra, onde assumiu a posição de CIO. Nesta ocasião, ele lembra que seu primeiro grande desafio foi a sinergia logística de toda a cadeia de distribuição do grupo com a construção de um software onde todos os sistemas de vendas consultavam um único estoque, um único processo de separação e um único frete. Segundo ele, isso representou uma redução de alguns milhões de reais nos gastos com frete.

 

Ageu conta que no ano que se tornou CIO teve a oportunidade de participar do maior evento de varejo, em Nova York, onde ouviu do então presidente do Wall Mart que ele teve a sabedoria de recrutar pessoas que eram tão boas ou até melhores do que ele próprio e isso o fez ter um time vencedor. “E foi algo que me marcou e eu valorizo muito o meu time e faço questão de que saibam sobre os benefícios que os projetos que estão desenvolvendo vão representar para os negócios.” Ageu diz que em todas as empresas onde trabalhou, além das já mencionadas a Sodimac, BR Home Center, Banco Sofisa e Grupo Avenida e agora na Leroy Merlin, sempre trouxe estes conceitos aprendidos ao longo dos anos, “um bom entendimento dos negócios para trazer valor com a tecnologia e cuidar da equipe para ter um time de alta performance.”

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