Voando com os Jetsons
Imagina uma menina cujo amor por ficção científica a fazia sonhar, desde pequena, em voar no carro espacial da Família Jetsons. Esta imagem talvez os mais novos não compreendam mas, para contextualizar, além de uma busca no Google, esclareço que trata-se de um desenho animado produzido pela conhecida dupla Hanna-Barbera nos Anos 60 – no Brasil continuou sendo transmitido até a década de 80 – que se passava no espaço, num futuro muito distante. Hoje caberia um sqn – só que não: nos dias de hoje não é mais tão distante assim e boa parte do imaginado por seus criadores já acontece.
Pois esta é Claudia Ferraz, CIO do grupo químico OCQ, que começou nosso papo dizendo-se fã de ficção científica, o que não era tão comum entre meninas anos atrás. A partir daí, como ainda não existia o curso de Robótica, resolveu fazer Engenharia Eletrônica. “Gostava mesmo da parte de hardware”, diz e se especializou no desenho de chips, algo então também distante do público feminino. “Naquela época falavam que mulher ía fazer Engenharia atrás de marido”, brinca, tal a predominância do público masculino neste tipo de curso.
Quando entrou como trainee na Accenture, ainda Arthur Andersen, para fazer automação industrial lhe foi atribuído um projeto de ERP. “Não era bem o que eu queria, mas gostei”, afirma, acrescentando que naquela época, década de 80, mesmo com o gosto pela parte mais técnica já vislumbrava o ganho que o negócio poderia obter com a tecnologia, ponto de vista que significava um diferencial dela na ocasião. Tanto é que em 1989 participou de um primeiro projeto já utilizando IA para a Mangels, fabricante de chapas de aço, que com a ferramenta passou a calcular o corte das chapas nos tamanhos pedidos pelos clientes otimizando o uso e reduzindo desperdícios, “como um jogo de encaixe”, sintetiza Claudia.
Nos anos 90, Claudia lembra do projeto de EIS – Executive Information System, precursor do BI, trazido pela Accenture e utilizado inicialmente pela Editora Abril para obter informações como circulação, venda e rentabilidade, entre outras, de cada uma de suas publicações. Informações obtidas ao clicar sobre logo de cada revista, como queria o board da empresa.
Mudando de lado do balcão, Claudia foi para a Dow Química, cliente da Accenture, onde viveu o processo de downsizing com a compatibilização das redes do mundo todo e a implantação do CRM, projeto que foi reconhecido mundialmente pela companhia, sendo inclusive premiado. Foi então convidada para participar do lançamento da start up BCP, hoje Claro, vivenciando o início do celular no País.
Novo convite a levou ao grupo GE como gerente de sistemas da GE Capital e lá permaneceu ao todo por 16 anos em diferentes áreas e cargos, com pequenos intervalos ao longo deste período. “A GE é uma escola”, diz. Um destes intervalos a levou à Microservice, como CIO. Na empresa, fabricante de CDs, um de seus grandes desafios foi garantir a logística da chegada às lojas, simultaneamente em todo o País, do lançamento de saga Harry Porter, atendendo as exigências dos comerciantes. Lá conseguiu também, em seis meses, reduzir o tempo de resposta do help desk de 70 horas para duas.
Em seguida, na Romi, indústria de base fabricante de máquinas e ferramentas, também como CIO, reencontrou seu antigo sonho de trabalhar com automação industrial e lá gerenciou um projeto de US$ 14 milhões no que viria a ser a maior e mais completa implantação do sistema Oracle na América Latina até então.
De volta à GE, atuou como CIO da GE Water para a América Latina, que fazia tratamento de água para indústrias, onde o desafio era o fato de a implantação do SAP ter sido feita por americanos e seu primeiro grande projeto na empresa foi acertar toda a parte de compliance com as adaptações necessárias para o sistema financeiro brasileiro, preparando a empresa, inclusive, para a implantação da NFe – Nota Fiscal Eletrônica. Claudia conta que o projeto foi premiado como business de maior qualidade e ao receber o prêmio o executivo financeiro o dedicou à área de TI. “Achei muito legal porque no geral as pessoas esquecem desta parte.” E mais, o projeto, inicialmente feito para a GE Water, acabou se estendendo para toda a corporação no Brasil por sugestão de Claudia. Também como resultado do trabalho, ela foi chamada pela divisão Energy da empresa para implantar o SAP no departamento financeiro na Alemanha e nos Estados Unidos e mais tarde em todas as demais subsidiárias no mundo.
Em seguida, atuou como CIO na indústria de embalagens plásticas Zaraplast, quando recebeu o convite para assumir a TI do Grupo OCQ, que atua no setor químico e que na época em que entrou, em 2020, era formado por dez empresas e faturava R$ 800 milhões. Hoje reúne 22 empresas e em cinco anos teve seu faturamento elevado para R$ 5 bilhões tanto por meio orgânico quanto de fusões e aquisições, o que levou o grupo a um amplo processo de profissionalização. Claudia foi a primeira diretora que não pertencia à família e ao apresentar seu plano diretor para TI o CEO a questionou: mas tudo que não fizemos em 30 anos você quer fazer em três, ao que ela respondeu que sim. “O projeto foi então batizado de 30 em 3, e assim aconteceu.”
Entre as realizações, Claudia destaca o Portal do Cliente, para acompanhamento do pedido incluindo nota fiscal, laudo, boleto etc…; o novo programa de logística, que reduziu o prazo para programar os caminhões para entrega de 12 horas para uma hora; a migração para a nuvem; padronização dos softwares utilizados pelas diversas empresas e o plano de cibersegurança, tudo envolvendo operações e, além do Brasil, também compreendendo Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Chile e Argentina. Claudia criou uma governança para o uso de IA e entre as aplicações ela destaca o sistema de gerenciamento dos laudos de todos os componentes químicos utilizados na produção que trabalha com machine learning. Entre projetos em andamento está a completa integração da Elekeiroz, adquirida em 2023 e que, sozinha, já tinha o mesmo faturamento que todo o grupo, e a preparação dos sistemas para a reforma tributária, que passa a incluir 40 campos novos na emissão de notas.
E para o próximo ano, Claudia pretende implantar uma ferramenta de WMS – Warehouse Management System no novo centro de distribuição da empresa, localizado em Guarulhos – São Paulo, e um sistema para mapeamento e gerenciamento do ciclo de vida do produto, de sua produção até rentabilidade, passando pela análise de componentes, para atuar junto com o ERP. Segundo Claudia, TI foi uma base importante de todo o crescimento da empresa. E conclui: “prometemos e cumprimos.”


