Em abril de 2013, na prestigiada Feira de Hannover, o termo Indústria 4.0 foi usado pela primeira vez – especialistas alemães apresentaram os elementos que vieram a compor o que se entendeu pela Quarta Revolução Industrial. A Logística 4.0, nosso tema central e discussão muito mais recente, não teve o seu momento “pedra fundamental”, mas é amplamente conhecida no mercado. A evolução desse conceito foi impulsionada pelas mudanças promovidas pela Indústria 4.0, justamente por ser um elo de ligação de toda a cadeia logística.
Mas, afinal, o que define a Logística 4.0? É um ideal que pode ser entendido como a reestruturação dos processos e atividades logísticas, em atenção às mudanças promovidas pela transformação digital nos modelos de negócios em geral, por meio da adoção de tecnologias voltadas à conectividade e ao uso inteligente e preditivo da informação.
E, ao contrário do que se possa pensar, toda essa movimentação em busca de uma cadeia digital interconectada, não foi impulsionada pelo desejo das empresas por inovação. Na verdade, foi uma reação às mudanças de consumo e demandas, que exigiram uma quebra na linearidade da cadeia tradicional, tão pouco flexível. O aumento contínuo nas compras realizadas via e-commerce e a tendência crescente das indústrias estruturarem canais de venda direto com os seus clientes mudaram os desafios de intralogística, distribuição e logística reversa das empresas. Passaram a ser necessárias novas formas de se realizar os processos, com maior flexibilidade, agilidade e visibilidade.
Chegamos, agora, na aplicação dessas mudanças. Mas, antes, te convido a fazer uma nova comparação ao conceito alemão: quando se fala em Indústria 4.0, muita gente imagina uma fábrica com dezenas de robôs, esteiras gigantes e automação do começo ao fim da produção. Na Logística 4.0, o senso comum não é muito diferente em relação à necessidade de tecnologias extremamente complexas (e caras). E, aqui, mora um verdadeiro mito – não se pratica a Logística 4.0 assim, as tecnologias não representam os fins, mas os meios para se chegar aos objetivos. Estamos falando de uma jornada, um passo a passo, com a adoção de soluções escaláveis.
São iniciativas baseadas no uso inteligente dos dados gerados na cadeia de valor da logística, realidades que já podem (e devem) ser utilizadas a favor dos negócios. Como resultado, ganha-se em previsibilidade de demandas, nivelamento de estoques, análises preditivas de manutenção de frota e otimização de toda a malha.
Os novos conceitos logísticos estão mudando a forma como os serviços são executados e cobrados. Aos poucos, alguns pontos começam a sair da esfera das tendências e a migrar para a realidade, como, por exemplo, o cross borders (ou, além das fronteiras) e o same-day (entrega no mesmo dia). As plataformas cross borders fazem a conexão entre diversos agentes da cadeia (prestadores de serviço, pessoas jurídicas e até físicas) e ainda possibilitam a eliminação de intermediários. Por outro lado, cada vez mais pressionadas por prazos, o diferencial pode estar em oferecer ao cliente o same-day delivery (entrega no mesmo dia da compra), o que impacta diretamente nos processos, plano de distribuição e uso de tecnologias pelas empresas logísticas.
E para falar mais sobre tendências, a movimentação dos produtos de um ponto a outro está em plena transformação. Entregas por meio de drones já são realidade em alguns países e veículos autônomos devem ser usados em um futuro não muito distante. A tecnologia de impressão 3D pode causar uma ruptura ainda maior, eliminando a necessidade de movimentação física – peças de reposição, por exemplo, podem ser impressas in loco. A adesão ao modelo de crowdsourcing, ao invés de fornecedores tradicionais, potencializado por bases digitais, tem enorme força para modificar alguns modelos de negócios logísticos por completo. Indo além, plataformas para contratação de transporte, similares ao modelo da Uber, e marketplaces, que excluem os intermediários da cadeia ou trabalham com o conceito de leilão reverso, são possibilidades reais – e muito do que aquecerá a Logística 4.0 no Brasil, nos próximos anos.
Mas qual a nossa realidade, hoje? Olhando o nosso mercado, formado na sua maioria por pequenas e médias empresas logísticas, ainda existe uma curva de maturidade a ser percorrida, para a adoção de soluções voltadas à Logística 4.0. É preciso criar uma agenda de inovação e acreditar que isso não é algo “do futuro”. Entender que se você não fizer, o concorrente vai fazer e que, talvez, daqui a algum tempo isso nem seja mais um diferencial competitivo.
A verdade é que estamos falando de uma mudança que, além de tecnológica, também é cultural, passando por pessoas, treinamento e capacitação, para transformar e preparar todos, para que possam usufruir o melhor dessas novidades. E, para encerrar, o mito de que isso é só para as grandes empresas, deve morrer de vez! Afinal, já há inúmeras ofertas e modalidades que democratizaram as tecnologias, do sistema de gestão à Inteligência Artificial e IoT.
E você, vai viver no passado ou fazer das tendências realidades para os seus negócios?
* Angela Gheller Telles é diretora dos Segmentos de Manufatura, Logística e Agroindústria da TOTVS