Equilibrando os diversos pratinhos
A história de Domingos Bruno no setor, hoje CIO da Cimed, uma das maiores farmacêuticas do País, remonta a seus 15 anos, quando entrou na Fundação Bradesco para dar continuidade aos estudos. Sua ideia era cursar eletrônica a acabou tendendo para processamento de dados depois de uma conversa com um aluno do curso. Começou a trabalhar no Bradesco como office boy e depois conseguiu migrar para a área de P&D. Foram sete anos no banco e de lá foi para a Philips, mais tarde para a Origin e então para a Elma Chips, do grupo Pepsico, onde ficou por 15 anos e em 2004 assumiu a diretoria de TI.
Domingos entrou na Elma Chips como responsável por sistemas na área de logística. De lá, foi para vendas onde promoveu a automação das filiais, da força de vendas e gerenciou a operação de BI. Ele conta que tinha um chefe mexicano que em meio a diversos projetos em andamento sugeriu, de repente, um job rotation entre os dois gestores de TI e foi levado a cuidar de infraestrutura, “que realmente não era a minha praia”. Passado o susto e a indignação inicial, Domingos diz que este tipo de movimentação é algo estimulante, “você sai da zona de conforto e vai sentir a dor do outro”.
Foram três anos na nova posição onde afirma que fez o que mais sabia: aproximar a TI do negócio e cuidar da comunicação entre áreas. “Isso é uma coisa que as pessoas têm dificuldade. Entre seus grandes projetos na empresa, um foi com a SAP. A Pepsico tinha feito várias aquisições, como a Elma Chips, Quaker e a Quero Côco, e cada empresa operava de uma maneira diferente e era necessário criar a sinergia entre todas”.
Depois disso, assumiu a TI da Arcos Dourados, a maior franqueada McDonalds do mundo, quando a companhia estava se preparando para abrir seu capital na bolsa de Nova York. “Era outro mundo, a coisa do business-to-consumer é um outro universo. Você tem a pressão, mas, ao mesmo tempo, você vê a tecnologia acontecer”. E acrescenta que, com uma super equipe e uma grande rede de parceiros, aprende a viver neste ambiente de pressão.
Em 2014, Domingos assumiu a TI da América Latina da empresa, tornando-se responsável pela tecnologia que, na época, fazia funcionar de 2,4 mil restaurantes atendendo 4 milhões de clientes por dia. “A ideia era viver em rede, mas cada restaurante tinha, ao mesmo tempo, uma operação autônoma”, descreve. E explica que o conceito é de “customer centricity”, mas em volta deste cliente tem os funcionários que é por meio de quem você chega ao consumidor.
No McDonalds, viveu a transformação digital com a instalação dos totens de auto-atendimento. “Foi a primeira vez que demos ao cliente a oportunidade de falar com o McDonalds por meio da tecnologia. E quando você leva para a frente do cliente a coisa muda de figura”. O sistema passou a controlar toda a cozinha, além dos aplicativos de delivery. E para completar sua trajetória na empresa, o Brasil fez a ação ousada do uso do apelido Méqui, em uma aproximação com o cliente utilizando a maneira informal pela qual se referem à marca.
Cansado da vida de viajante, Domingos decide voltar a se fixar no Brasil. É quando surge o convite para assumir a TI da Cimed, uma empresa familiar que hoje é uma das maiores farmacêuticas do País com faturamento de R$ 3 bilhões e a previsão de, no próximo ano, atingir os R$ 4 bilhões. A Cimed tem entre seus focos medicamentos genéricos, produtos de consumo e vitaminas e o propósito da empresa é proporcionar saúde e bem-estar para todos os brasileiros.
Domingos conta que a empresa é extremamente verticalizada e, além da fabricação, realiza todo o processo de distribuição e até mesmo o desenho e produção das embalagens. “Quando você possui toda a cadeia produtiva, você passa a ter maior controle de todo o processo”. A Cimed possui cerca de 1 mil representantes comerciais na rua em todo o País e o trabalho deles, diferente de outras farmacêuticas, é feito diretamente com os gerentes das farmácias. O Brasil possui hoje mais de 90 mil farmácias.
Com uma TI enxuta, são 54 pessoas, Domingos diz que entre os projetos em andamento a empresa trabalha com o Google em sistemas de inteligência artificial generativa e outro foco é o tratamento de dados, mas sempre de olho no resultado. Ele diz que no dia a dia o desafio da área é equilibrar os vários pratinhos que compreendem a TI tradicional, que é o que garante o funcionamento e a base de tudo e, paralelamente, acompanhar todas as mudanças e pensar em inovação de maneira a atender melhor as farmácias, pontos de venda e o consumidor final.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo para todas as plataformas editoriais e participa do Conselho Editorial da Decision Report.