Cenário pós-pandemia impulsiona a adoção de tecnologia para aprimorar a experiência de compra dos consumidores
A popularização dos meios de pagamentos sem contato durante a pandemia de Covid-19 contribuiu para uma espécie de reinvenção do QR Code — tecnologia que, embora existisse há anos, ainda dava passos iniciais em muitos países. Agora, as expectativas de crescimento são altas: o número de pessoas que regularmente paga contas e compras usando QR Codes deve crescer dos atuais 1,5 bilhão para mais de 2,2 bilhões até 2025, segundo levantamento da consultoria britânica Juniper Research, com alta liderada por países emergentes como o Brasil. Com o mercado investindo em novas possibilidades de uso, o cenário é de oportunidade para as empresas que querem explorar tecnologias para aprimorar a jornada de compra dos seus consumidores.
Com o objetivo de codificar e transmitir informações, o QR Code — ou “quick response code” (código de resposta rápida, em tradução literal) é uma evolução do código de barras, possuindo alta capacidade de armazenamento de dados. A tecnologia foi inventada na década de 1990 para rastrear veículos durante a fabricação, passando a ser utilizado em outros contextos somente 15 anos depois, principalmente devido ao advento dos smartphones.
Mesmo assim, sua popularização não foi imediata, sobretudo porque sua leitura demandava a instalação de aplicativos específicos. A partir de 2016, no entanto, as câmeras dos smartphones passaram a contar com sistemas de leitores integrados, o que facilitou sua aplicação. “O QR Code começou a aparecer nas embalagens dos produtos para direcionar a links de páginas promocionais e portais de atendimento, mas isso era apenas o começo. Hoje, essa tecnologia vai muito além, sendo utilizada inclusive para a concretização de pagamentos”, explica João Gustavo Pompeo, fundador e CEO da Eyemobile, empresa que desenvolve tecnologias para vendas físicas e digitais.
Com a pandemia, a utilização de meios de pagamentos sem contato disparou e o QR Code não ficou de fora. A realização de transações com essa tecnologia aumentou de 35% para 48% em apenas seis meses de 2020, segundo pesquisa do Panorama Mobile Time/Opinion Box. O lançamento do Pix posteriormente também impulsionou essa utilização, considerando que um dos recursos da ferramenta — que, em pouco tempo, se tornou uma das favoritas dos brasileiros — é exatamente o uso de códigos para transações.
Em geral, o processo é bastante intuitivo: na maioria dos casos, basta que o consumidor abra o aplicativo do banco ou instituição que deseja utilizar para fazer o pagamento e selecione a opção para pagamento via QR Code, apontando em seguida a câmera para o código apresentado pelo estabelecimento em que está realizando a compra. Para os consumidores, além de ser uma opção ágil e prática, que não requer dados e senhas, é mais segura e higiênica do que utilizar equipamentos e cartões tocados por diversas pessoas. Para os lojistas, por sua vez, a vantagem está na eliminação dos custos de taxas cobradas por intermediários, já que praticamente toda a operação é realizada de forma automática e instantânea.
Com essa popularização dos QR Codes como formas de pagamento, as marcas estão explorando ainda mais as potencialidades do recurso. “A tecnologia pode ser antiga, mas é extremamente versátil e agora, mais do que nunca, tende a ganhar novas funcionalidades e mais espaço no varejo por oferecer melhores experiências ao cliente”, reforça João Gustavo Pompeo.
Confira alguns dos usos inovadores do QR Code no varejo:
Acesso a informações, promoções ou produtos diferenciados
Uma das propostas do QR Code é trazer informações adicionais sobre determinados produtos para os clientes, aumentando o engajamento e melhorando a experiência de compra. É possível, por exemplo, levar ao consumidor detalhes sobre a mercadoria que não caberiam em uma etiqueta padrão, oferecer conteúdos em audiovisual ou até gerar uma integração com venda online, de forma que ele consiga ver produtos semelhantes que estejam disponíveis no site da loja. Outra aplicação do código é para que o cliente valide ofertas ou gere cupons promocionais.
Cardápio digital
O QR Code se tornou comum em bares e restaurantes por estabelecer uma alternativa aos cardápios impressos, que acabaram perdendo espaço diante das medidas sanitárias contra a pandemia. “Nos estabelecimentos físicos, o cliente pode acessar o cardápio digital no seu celular por meio do QR Code. Mas não é só isso: com apoio da tecnologia, ele também consegue fechar o pedido e até realizar o pagamento sozinho, sem precisar passar por atendentes ou pelo caixa para pagar a conta, o que agiliza todo o processo”, explica o CEO da Eyemobile. O cardápio digital ainda é capaz de integrar em apenas um sistema os pedidos realizados pelos consumidores, independentemente de onde eles estejam, o que facilita a gestão do empreendedor.
Em casa, o cliente pode acessar o mesmo menu no celular sem nem mesmo precisar fazer download de um aplicativo, através de um QR Code na embalagem ou um link compartilhado pelo estabelecimento em seu site ou redes sociais, por exemplo.
Honest Market
Iniciativa comum em alguns países, o honest market começou a ganhar força nacionalmente por conta da pandemia, considerando que também tem entre suas premissas a agilidade, praticidade e ausência de contato físico. A ideia é de uma loja inteligente que funciona de forma autônoma, sem a necessidade de funcionários: as embalagens dos produtos são adesivadas com QR Codes e os clientes realizam um autoatendimento, escolhendo sua mercadoria e escaneando o código para fazer o pagamento. No Brasil, o segmento tem funcionado sobretudo no formato de mini mercados e lojas de conveniência instaladas dentro de centros empresariais ou condomínios residenciais.
Loja de parede
Pesquisa de 2021 da Opinion Box demonstra o potencial das vendas multicanal: 60% dos brasileiros consomem de forma híbrida, ou seja, realizam uma parte do processo de compra na internet e a outra, presencialmente. Dentro desta tendência, uma nova ideia é a “loja de parede”, que teve um projeto piloto executado pelo segmento de cosméticos recentemente. A iniciativa consiste em uma espécie de vitrine, que apresenta foto e descrição dos produtos. “A quem ficasse interessado, bastava mirar a câmera do celular para o QR Code junto ao item desejado para ser direcionado ao e-commerce da marca, já com o produto no carrinho de compras”, explica João Gustavo Pompeo. A estratégia é novidade no país, mas tem tudo para dar certo, já que traz uma interação inovadora que vai ao encontro do comportamento do consumidor, misturando as experiências on e offline.