Célia Poliakovas é Head de TI da Santo Antônio Energia, a quarta maior geradora de energia hídrica do País, situada em Porto Velho, Rondônia, ao longo de parte do rio Madeira, e hoje pertencente à Eletrobrás. A empresa tem capacidade de geração de 3.568 Megawatts, o suficiente para atender o consumo de até 43 milhões de pessoas. Ela entrou no mundo de geração de Energia há dois anos e meio. Antes trabalhou no Grupo Ultra, onde permaneceu por 26 anos e seu último cargo foi de Head de TI da Ultracargo, braço de logística e armazenamento do grupo.
Cursando o ensino fundamental em escola pública, seus pais acharam que seria bom colocar a filha numa instituição particular no ensino médio visando o vestibular e seu futuro profissional. Foi quando começou a cursar processamento de dados. A escolha da área técnica, segundo Célia, foi porque ela, como filha única, pensava em sua independência. No segundo ano do curso passou a atuar como monitora, o que lhe garantiu uma bolsa de estudos, e no terceiro ano uma vaga como estagiária da então Telesp.
Convidada por um dos seus professores, foi trabalhar em uma software house antes mesmo de ingressar na faculdade de Administração com ênfase em Análise de Sistemas. Durante os três anos na empresa atendeu grandes clientes como a Ford e outros. “Nesta ocasião eu já tinha em mente conhecer outras áreas onde pudesse, com a tecnologia, contribuir com pessoas e processos. E isso me ajudou muito em meu desenvolvimento profissional.” E a levou também a MBA em gestão empresarial na FGV e ao MBA em transformação digital na PUC-RS.
Entrou no Grupo Ultra como programadora, virou analista de sistema e foi transferida para a Ultracargo, empresa do conglomerado responsável pelo armazenamento e logística de produtos químicos e petroquímicos. Passou à coordenação e depois à gerente de TI e teve a oportunidade de participar dos processos de automação industrial da empresa. Ela conta que no setor de armazenamento a TI participou, entre outras inovações, da implantação de sensores nos tanques para verificação de volume, temperatura e da aplicação de RFID para monitorar o fluxo de carregamento dos produtos, “e tudo com o olhar de segurança industrial por se tratar de produto perigoso”, destaca.
Na parte de transporte, a empresa foi uma das primeiras a instalar GPS com rastreadores nos caminhões, permitindo o acompanhamento do cliente, e de botão de pânico para eventuais necessidades dos motoristas por conta do alto índice de roubo de carga, no caso combustível. Ao longo de 26 anos no grupo, implantou o SAP, atuou na implementação de tecnologias na automatização das áreas de apoio e passou por alguns processos de compra e venda de empresas. Nestes processos a TI é a primeira a chegar, junto com o RH. “O Grupo Ultra foi minha grande escola”, afirma.
O convite para a Santo Antônio Energia veio ao encontro do desejo de Célia de conhecer outros segmentos de mercado. “Energia é um setor que a gente se apaixona, a usina, que fica perto de Porto Velho, é linda e dá orgulho de ser brasileira.” Célia explica que são 50 turbinas de energia limpa e renovável com um cuidado muito grande com a comunidade e com o próprio rio, o Madeira. Detalhe, o início na nova empresa acontece no auge da pandemia, em 2021.
Célia conta que quando chegou havia dois grandes desafios: a atualização do ERP da Oracle, que passava por um upgrade, o que não era feito há muitos anos, e o projeto de move to cloud. “A maior questão é que os projetos tinham que andar em paralelo. “Era necessário fazer uma atualização da infraestrutura, antes de realizar a atualização do sistema”, diz. E assim foi seu primeiro ano na “nova casa” e no novo setor. Perguntei à Célia como foi a receptividade a ela, uma mulher e vinda de fora do setor.
“Acho que a coragem maior foi da CFO que me conhecia na empresa anterior e me convidou”, brinca. Com relação à equipe, ela diz que não teve qualquer problema, “acho que a equipe se adaptou bem ao meu perfil de ouvir as pessoas e de levar de um jeito leve uma área que é bastante demandada. E é assim que inicio o trabalho para depois então criar a estratégia”. E acrescenta que a entrega dos dois projetos atingiu um grau de excelência tal que foi reconhecida pelas áreas usuárias.
Mas mal deu tempo de comemorar o que havia sido feito e novo desafio se colocava para a executiva. A Eletrobrás passou a ser a controladora da Santo Antônio Energia e em dezembro último teve início o processo de integração. E, surpresa…, a Eletrobrás usa SAP, ou seja, o primeiro passo está sendo a mudança não só do ERP e com ele de todos os processos da companhia, mas também do mindset da equipe de TI e dos usuários das demais áreas.
Neste processo, Célia convidou líderes da TI da Eletrobrás para conhecerem o trabalho feito na Santo Antônio Energia pela equipe de tecnologia e conta que a aproximação foi muito boa e ficaram impressionados inclusive com o tamanho da equipe, bastante enxuta, que conta profissionais internos e terceirizados. “O desafio da tecnologia não me preocupa”, diz Célia, “o ponto de atenção é o gerenciamento da mudança e todo o processo de integração com a Eletrobrás.
Este é estruturante.” O roll out para o novo sistema de gestão está estimado para acontecer no início do próximo ano. E Célia comenta que o desafio é gigantesco e extremamente motivador. “Um privilégio poder participar deste momento de integração e de transformação de duas grandes empresas do setor de energia.”
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo para todas as plataformas editoriais e participa do Conselho Editorial da Decision Report.