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Blockchain, quase sexy!

Blockchain, quase sexy!

Segundo Marcos Villas, professor da PUC-Rio, embora tecnologia seja nova, até mesmo misteriosa para muitos, conceito já ganha corpo e vários profissionais de TI se perguntam como encaixá-lo em algum projeto

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Um colega meu, o Thiago, consultor de gestão empresarial, me perguntou: “Essa tal de blockchain é compreensível às pessoas comuns ou uma exclusividade para nerds?” Sim, é compreensível a qualquer um, respondi. E precisa ser, pois esta tecnologia já conta com várias aplicações e existem planos para muitas outras pela própria busca da indústria por maior eficiência nas organizações e entre as organizações.

 

Lançada em 2008, foi a moeda virtual Bitcoin que apresentou ao mundo o conceito de “blockchain”: um registro indelével e fisicamente distribuído de transações realizadas, que pode ser consultado e validado por todas as partes interessadas (stakeholders). Um problema clássico de qualquer moeda virtual é o chamado “gasto duplo” (double spending): como garantir que uma mesma unidade de moeda virtual não será utilizada duas vezes ao mesmo tempo? Uma mesma nota de R$100 que, por exemplo, pertence ao meu colega Thiago não pode ser utilizada para realizar duas compras no valor de R$100 ao mesmo tempo.

 

Para evitar este problema, Satoshi Nakamoto (que ninguém sabe se é uma pessoa ou um grupo de pessoas), em seu artigo onde propôs o Bitcoin, descreveu o que denominamos em computação de “método de persistência”, uma forma de guardar dados, que não dependesse de uma entidade centralizadora (ex: um Banco Central) e que fosse pública e que pudesse ser utilizada para verificar se uma moeda virtual já foi utilizada ou não. Nasce daí o registro de todas as transações já efetuadas em Bitcoin: uma lista (cadeia) pública de todas as transações realizadas (organizadas em blocos) que atualmente (abril/17) tem pouco mais de 110 Gb de tamanho.

 

Esta tecnologia é multidimensional, multifacetada e está em evolução. Grandes empresas de informática como Google e IBM, entre outras, estão trabalhando em “tecnologias de registro distribuído”, as chamadas DLTs (Distributed Ledger Technologies). Muito embora “ledger” seja uma referência ao livro-razão utilizado em contabilidade, as aplicações DLTs transbordam para áreas não financeiras.

 

Depois de assistirmos a vários modismos da área de gestão, tais como reengenharia e downsizing, o Thiago poderia me perguntar: “Blockchain é mais um modismo?”. Não Thiago, não é. Mas eu me pergunto: “Blockchain é uma solução em busca de um problema?”. Isto não é incomum em informática: avanços tecnológicos que acreditamos serem soluções para vários tipos de problemas, podem ser também verdadeiras panaceias digitais geradoras de problemas organizacionais. Em TI já vimos isto acontecer, em certa medida, com as tecnologias de workflow para automação de fluxos de trabalho em meados da década de 90.

 

Embora essa tecnologia seja nova, ainda misteriosa para muitos, quase sexy, vejo que esse conceito ganha corpo e já percebo pessoas da área de TI se perguntando como encaixar a tecnologia blockchain em algum projeto.  Sei que organizações relacionadas às atividades financeiras estão experimentando essa tecnologia e realizando provas de conceito e a companhias globais avaliando e considerando investimentos nela, além de algumas iniciativas pioneiras de áreas de logística e distribuição de mídias digitais com arte e música.

 

Do ponto de vista da ciência da computação, o blockchain é o resultado de uma convergência inteligente de áreas como criptografia, segurança digital e bancos de dados distribuídos, com um algo a mais. No futuro, será mais uma tecnologia que poderá ser incorporada aos sistemas de informação, em especial aos sistemas de escopo interorganizacional (onde os stakeholders são várias empresas). Na evolução da programação, fomos seduzidos a utilizar sistemas gerenciadores de bancos de dados, bibliotecas de interação com o usuário final em vários dispositivos e gerenciadores de workflow. Em breve, teremos sistemas gerenciadores de blockchain capazes de esconder a sua complexidade de funcionamento em prol da simplificação e difusão do seu uso.

 

Outra faceta do Blockchain são os chamados “contratos inteligentes”. Em 2015 um programa de rádio da BBC entrevistou uma empreendedora que sugeriu “casamentos Blockchain”, que precisavam ter seus votos renovados periodicamente, caso contrário haveria a separação. Há também as organizações autônomas descentralizadas (DAOs), com suas regras de funcionamento embutidas em um blockchain.

 

Portanto, Thiago meu amigo, você precisa entender o que é esta tecnologia e o que ela pode trazer de benefícios para a sua empresa, pois o planeta já a descobriu e as pessoas estão fazendo uso desse conceito de forma bastante criativa.

 

* Marcos Villas é Mestre em Computação, Doutor em Administração, sócio-fundador da RSI Redes e professor da PUC-Rio