A RTM, provedora de serviços para integração do mercado financeiro, realizou nesta semana a 2ª Conferência Blockchain, reunindo mais de 130 pessoas entre gestores de TI e Telecom, autoridades e parceiros. O diretor geral da RTM, André Mello, apresentou as iniciativas do programa de inovação Conecta RTM, lançado no ano passado, com o objetivo de proporcionar um ambiente criativo para colaboração e troca de ideias através de um ecossistema cooperativo, gerando inovação que resulte em soluções para os clientes.
A Conferência também contou com a presença de executivos de diversas instituições como Itaú-Unibanco, Bradesco, CIP e Banco Central. O primeiro palestrante, Robert Sagurton, da R3 CEV, consórcio internacional que reúne mais de 40 instituições financeiras falou sobre a Modernização do Mercado Financeiro Brasileiro, afirmando que a visão de rede descentralizada está cada vez mais clara no país.
“A plataforma DLT (distributed Ledger technology) reduz a dependência excessiva de uma central de processamento ao mesmo tempo em que incentiva novas soluções. Não é possível ignorar alguns fatos: necessidade de reinvenção de processos de negócios legados, condução de padrões através da colaboração e abertura da rede financeira à inovação externa”, afirmou.
Segundo ele, o Brasil reúne condições para ser um líder global em DLT, pois tem histórico de colaboração em rede e serviços compartilhados; dispõe de um grupo de trabalho Febraban sobre blockchain, reguladores engajados e problemas que podem ser resolvidos pela tecnologia.
Visão do Banco Central
O chefe do departamento de Tecnologia do Banco Central, Marcelo Yared, discorreu sobre a visão da Autoridade no que diz respeito à Blockchain. Em sua exposição, falou sobre o Laboratório de Inovação, grupo de trabalho formado no Departamento de Tecnologia da Informação do Banco Central com foco em tecnologia, responsável por pesquisar as vantagens da utilização do distributed ledger technology (DLT), a tecnologia do blockchain. O resultado de um dos estudos foi o artigo “Distributed ledger technical research in Central Bank of Brazil”, disponível no site institucional do BC.
A pesquisa concentrou-se em verificar se a tecnologia blockchain poderia manter um sistema financeiro operante em caso de completa indisponibilidade do Sistema de Transferência de Reservas (STR) do BC. “Concluímos, com o estudo, que essa tecnologia ainda não está madura o suficiente, apesar de ter potencial. Esbarramos em questões de privacidade entre instituições financeiras, que infringem os requisitos atualmente exigidos pelo BC. Mas, se fosse possível alterar esses requisitos, daria para manter o sistema financeiro operando em regime de contingência no caso de uma queda completa do BC”, afirmou.
Na primeira fase de trabalho, o Laboratório trabalhou no case SALT (Sistema Alternativo de Liquidação de Transações), Sistema de Contingência ao Sistema de Transferência de Reservas – STR, no qual DLT é uma alternativa viável. O protótipo funcional em plataforma de nuvem trouxe os seguintes resultados: sigilo de saldos e transações por criptografia; instituições financeiras operam independente da infra do BC; BC pode monitorar todas as transações; garantia de saldos positivos na presença do BC; e bloqueio de transações e IFs por não cumprir as regras.
A segunda etapa focou em ampliar os estudos, avaliar outras plataformas com foco na privacidade, acompanhar a atualização das plataformas disponíveis e documentar o trabalho desenvolvido e suas aplicabilidades. Foram estudadas as Plataformas Fabric, Quorum e Corda.
Segundo Yared, há pontos de atenção: a prova de conceito mostrou o potencial da tecnologia; sigilo dos dados ainda precisa ser aperfeiçoado; ainda não atingimos simultaneamente: privacidade de saldo e transações, garantia de saldo positivo, independência de nó central.
Em suas considerações finais, destacou que a tecnologia DLT ainda está em maturação, apresentando potencialidades em cenários de resiliência. “O Banco Central continuará os estudos sobre a tecnologia para garantir a segurança. O BC trabalha há mais de 20 anos de forma colaborativa. Sem dúvida, A colaboração é o ponto chave para acelerar o aprendizado e o trabalho conjunto com o SFN/Fintechs”. Finalizou Yared.
Desafio Colaborativo
Cassio Damaceno, gerente de Negócio da CIP, ministrou a palestra Blockchain Desafio Colaborativo, ressaltando que a Câmara acompanha o tema desde 2012. Em sua palestra, fez um balanço da evolução da tecnologia até hoje, destacando a atuação da CIP e os cenários nacional e internacional.
Integrante do GT Febraban sobre Blockchain e em conversações para participar do Consórcio R3, a CIP entende que colaboração é a chave para o sucesso. “É impossível e inútil fazer uma rede de blockchain em um único banco”.
Segundo Cássio, o principal desafio é formar conhecimento. É preciso ter mão de obra especializada em blockchain “Não temos programadores suficientes no mercado. Precisamos andar. O mundo lá fora não está parado. Vejo um futuro brilhante para o Brasil. A CIP está totalmente inserida neste processo, sempre à disposição para ajudar”, concluiu.
Avanços em Distributed Ledger
George Marcel Smetana, Consultor de Pesquisa e Inovação do Banco Bradesco, iniciou sua apresentação falando sobre conceitos que envolvem a tecnologia. Block chaining é uma estrutura de dados onde o registro atual depende “criptograficamente” de informações do registro anterior, criando encadeamento. A alteração de um implica na alteração dos subsequentes. É impossível alterar um registro passado sem que isso seja detectado.
Já Distributed Ledger é um novo paradigma de arquitetura de sistemas distribuídos multipartite, onde as partes envolvidas em uma transação possuem a mesma visão da verdade, assegurada pelo sistema by design, através de regras de consenso definidas pelo modelo de negócio. O Blockchain é a combinação de Distributed Ledger com block chaining.
Na sequência, o consultor avaliou que blockchains públicos e privados vão coexistir, assim como as plataformas por trás desta tecnologia, sendo que cada uma terá um foco de adoção.
Mostrou a infraestrutura de mercado nacional, destacando a arquitetura atual centralizada e o modelo de negócio decorrente, no qual as entidades centrais são confiáveis e as mensagens são processadas nos nós centrais. Na mudança de arquitetura para Blockchain / Distributed Ledger, há alteração na forma de atuação dos ex-nós centrais e a governança é crítica.
Destacou os tipos de Distributed Ledger: Fully replicated / Simétrico e Partially replicated / Assimétrico / Particionado. No primeiro caso, todos os nós enxergam todas as transações; a privacidade, quando desejada, deve ser garantida por criptografia das mensagens; Já no modelo Particionado, somente as partes envolvidas recebem a mensagem, a privacidade é garantida fisicamente e por criptografia.
Para Smetana, inicialmente é necessário avaliar ecossistemas com elementos centrais e intermediários que agregam pouco (ou nenhum) valor à cadeia; negócios que têm problemas de conciliação entre as partes; negócios carentes de sistemas ou com sistemas ineficientes. De qualquer forma, a análise de custo poderá ser sempre um fator determinante.
Sobre o posicionamento do Bradesco acerca do Blockchain, deixou claro que o banco enxerga mais oportunidades do que riscos. Além de integrar o consórcio internacional R3 e o grupo de trabalho da Febraban, a instituição tem concentrado esforços para dominar e disseminar a tecnologia, mapear riscos e oportunidades para a organização, selecionar os casos de uso mais importantes, bem como executar provas de conceito e projetos pilotos.
Estudo de caso
Por fim, Adilson Fernandes da Conceição, Gerente de Arquitetura Enterprise do Itaú-Unibanco, falou rapidamente sobre o conceito de blockchain: trata-se de um banco de dados (copiado para todos os nós da rede) separado em blocos (com cada bloco contendo detalhes da transação, como o vendedor, o comprador, o preço, termos de contrato, etc.) com cada bloco validado por toda rede (através das chaves criptográficas e do mecanismo de consenso) e conectado a corrente de transações anteriores (desde que o bloco tenha sido validado).
Segundo o Gerente de Arquitetura, o Itaú-Unibanco começou a testar a tecnologia em 2015 com Ethereum, se juntou ao R3 e está a bordo, junto com outros bancos, em um grupo de trabalho da Febraban sobre blockchain. Além disso, mantém um centro de excelência com frentes estratégica, tecnológica e funcional com objetivo de detectar oportunidades, disseminar, mapear cenários e identificar parcerias de negócio e alianças estratégicas.
Adilson apresentou o esquema de funcionamento da nova tecnologia, baseado em provas de conceito com dados fictícios realizadas recentemente pelo Centro de Excelência da instituição, utilizando plataformas distintas.