Negócios diversos
Rogério Pires é um CIO que pode dizer que fez de quase tudo um pouco no que diz respeito à sua atuação na área de TI. Ainda na faculdade, iniciou um estágio na Volkswagen do Brasil, quando começou a descobrir um universo ainda muito incipiente nos anos 80 que era o da microinformática.
A partir desta experiência foi chamado pela empresa INA, fabricante de rolamentos para automóveis. Seu desafio na ocasião foi o de disseminar o conhecimento sobre microcomputadores e computação distribuída. “Criamos então uma rede usando infraestrutura da Novell, na época, o que levou à uma grande agilidade nos processos da empresa, a tal ponto que algum tempo depois o mainframe foi desligado”, lembra.
Outra lembrança desta época foi a ida para a Alemanha, onde os sistemas de CAD/CAM já estavam bem difundidos, para entender como funcionavam e trazer a tecnologia para o Brasil uma vez que a indústria automobilística começava a não aceitar projetos em papel, apenas arquivos digitalizados. A esta altura estamos na década de 90 e em 1999 foi convidado para atuar na Disney, que chegava ao Brasil.
“Neste momento tive uma virada de chave na minha carreira”, diz Rogério, contando que foi quando se aproximou muito das áreas de negócio tanto por conta do bug do milênio, que se mostrou muito menos do que o caos esperado, mas também pelo que viria depois, a implantação do primeiro ERP da empresa.
Na época, a opção recaiu sobre o sistema da Totus. Mas o pulo do gato de sua atuação na companhia aconteceu mais tarde. Ele conta que as locadoras e magazines queriam ter os lançamentos no dia em que chegavam ao País para oferecerem para seus clientes, mas os pedidos ainda eram feitos por fax pelos representantes da empresa em todo o Brasil. Estes eram então digitados para entrarem no sistema e serem processados, procedimento que levava cerca de 5 dias. “Isso quando os dados eram imputados sem nenhum erro.”
Foi quando Rogério teve a ideia de usar a internet para o envio dos pedidos. Detalhe, a rede funcionava por linha discada. Ele reconhece que foi uma decisão de risco, admite que teve alguns problemas, mas conta que ficou acertado com os representantes que os pedidos feitos até 23:59 de um dia entrariam no sistema já no dia seguinte para serem processados e entregues.
“Desta maneira, quem digitava o pedido era o próprio representante e quando havia algum erro, tipo código do produto, o sistema não aceitava e o pedido não era finalizado”, explica, acrescentando que além disso o representante podia consultar o estoque para ver disponibilidade do filme que estava encomendando. Segundo Rogério, o processo que costumava levar cinco dias passou a ser finalizado em algumas horas. Na Disney também iniciou um trabalho com BI que facilitou o entendimento sobre o fluxo de venda e a diferença dos números entre uma loja e outra.
Na Cyrela começou a trabalhar com geolocalização e também com BI, reunindo e cruzando dados tanto do IBGE quanto aqueles captados nos stands de vendas dos empreendimentos, armazenados então em um banco que possibilitou a antecipação da oferta para o perfil de público adequado a cada lançamento.
Finalmente na JHSF, Rogério se viu, há dez anos, diante de um grupo com participação em negócios tão diversos quanto incorporação, varejo, shopping centers, hotel e restaurante, chegando a um aeroporto internacional executivo, situado em São Roque, interior de São Paulo, para jatos e helicópteros particulares e corporativos que conta com postos da Alfândega e da Anvisa para os procedimentos legais, atendendo um público de alta renda.
“Quando entrei era uma empresa que estava abrindo seu capital e crescendo muito”, relata. Ele conta que o primeiro grande desafio foi fazer com que as pessoas acreditassem que a TI tinha vindo para ajudar as áreas de negócio entregando projetos dentro do prazo, com menor custo e cumprindo o que havia sido prometido. Um dos primeiros passos foi a mudança do ERP do grupo, ao mesmo tempo foi tomada a decisão de que cada unidade de negócio manteria seu próprio sistema de gestão, apropriado à sua área de atuação, sendo os dados então consolidados no ERP da holding, da Totus.
Os negócios da JHSF, uma empresa com três mil colaboradores e faturamento 2 bilhões de reais, incluem os hotéis e restaurantes Fasano, hoje presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Salvador, Trancoso (Bahia), Punta del Este (Uruguai) e Nova York; shopping centers para um público de alto poder aquisitivo, como o Shopping Cidade Jardim, na capital paulista e outro no interior do estado, além de Salvador e Manaus; lojas exclusivas representantes de marcas internacionais; a incorporadora JHSF de empreendimentos comerciais e residenciais de luxo e o aeroporto internacional executivo.
A área de TI possui especialistas em cada um dos ramos de negócio do grupo. “Assim, nas conversas com a unidade de negócios falamos a linguagem do negócio”, destaca. O grupo já faz uso de ferramentas de RPA – Robotic Process Automation em alguns procedimentos visando a automatização de rotinas repetitivas e está sendo analisado o uso de ferramentas de inteligência artificial.
Outros focos apontados por Rogério para este ano são a ampliação do uso de BI e todas as questões afeitas à segurança da informação. Segundo ele, a própria maturidade da área de TI cresceu muito e hoje existe grande credibilidade no trabalho e entre os resultados deste processo está o fato dos colaboradores passarem a ter maior poder de computação nas mãos e liberdade de atuação em suas respectivas áreas.
*Stela Lachtermacher é jornalista de TI, com atuação como editora e colunista no Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Editora Abril e diretora editorial na IT Mídia. Hoje tem sua própria empresa, a Candelabro, onde trabalha na produção de conteúdo e integra o time de parceiros da Conteúdo Digital no desenvolvimento da Coluna “Bastidores da TI” no portal Decision Report.