No segundo dia de SAPPHIRE, conferência anual da empresa alemã que acontece esta semana, em Orlando, Hasso Platner, um dos fundadores e atual chairman da SAP, esclarece que o Leonardo não é um sistema, nem tão pouco um programa e sim um conjunto de ferramentas que permite desenvolver aplicações em áreas consideradas disruptivas como machine learning, IoT, blockchain e analytics.
Para ele a diferença entre o Leonardo e outras iniciativas do mercado, é que elas são isoladas, enquanto a SAP procurou juntar todas as tendências em uma base sólida de sistemas. A ideia da companhia é levar inteligência para sua consagrada arquitetura e o portfólio de produtos montado com base nas aquisições como Ariba, SuccessFactors e Concur. Na verdade, a trajetória do Leonardo começou como um projeto de IoT, anunciado no início deste ano.
No SAPPHIRE, Leonardo ressurgiu muito mais abrangente e amadurecido, passando a ser apresentado como o novo paradigma de sistemas da gigante alemã. O foco inicial de IoT se expandiu principalmente para machine learning, uma das fortes buzzwords do momento, ao lado de blockchain. Com todo esse apelo, não é de se estranhar que a novidade esteja sendo recebida com entusiasmo pelos executivos e clientes da SAP presentes ao evento.
O nome Leonardo, além de ter sido uma escolha que reflete inovação e descoberta, está sendo, inevitavelmente, comparado ao Watson, solução de computação cognitiva da parceira IBM. Para a presidente da SAP Brasil, Cristina Palmaka, os produtos possuem escopos diferentes, sendo que machine learning é um dos pilares do sistema Leonardo. Na verdade, para Palmaka, o grande diferencial está em colocar a oferta da SAP em um novo patamar no cenário de transformação digital. Nesse sentido, ela considera o Leonardo bem mais amplo do que o Watson.
Jonathan Becher, Chief Digital Officer da SAP, vai mais além ao afirmar que acredita numa complementariedade entre o Leonardo e o Watson, já que a inteligência cognitiva está integrada ao sistema da SAP. Ao mesmo tempo ele reforça a forte parceria que existe entre a SAP e a IBM, uma das companhias presentes ao SAPPHIRE. Para ele, Leonardo se propõe a contribuir para a solução de problemas presentes e futuros, mas conectando ao mesmo tempo pessoas, processos e tecnologias.
Linha de largada
Um dos caminhos iniciais para adoção do sistema Leonardo está no modelo de componentização a ser inserido em produtos que já integram o portfólio da SAP. No caso do Ariba, solução voltada para o segmento de e-commerce, por exemplo, será inserido um componente de blockchain, enquanto no SucessFactors, direcionado a RH, a intenção é acoplar recursos de machine learning na área de recrutamento, com o objetivo de automatizar funções rotineiras. Todas essas atualizações serão liberadas via cloud, o que facilita a adoção de componentes do Leonardo.
Para Rolim de Camargo Junior, gerente de Sistemas da Usiminas, a oferta de recursos do Leonardo em soluções já adquiridas via cloud é um grande atrativo. Para a empresa, usuária de SuccessFactors, a possibilidade de acoplar recursos de machine learning faz todo sentido com o propósito de evoluir em uma plataforma 4.0. “Essa estratégia está em discussão na companhia e impressionou bastante ver esse conjunto de soluções apresentado pela SAP”, enfatizou Rolim.
Apesar de atraente, Rolim acredita que a combinação e integração de tantas soluções não seja algo simples de ser implementado. O executivo da Usiminas alerta que o melhor caminho é não considerar que existe mundo perfeito. “Uma coisa é saber que integra, outra é fazer isso acontecer de fato”. Ele ressalta que o mais seguro é avaliar com cuidado os pré-requisitos para a adoção de soluções disruptivas, porque sempre existirá um legado que não deve ser ignorado.
Acelerando o passo
Outra estratégia a ser adotada para facilitar a adoção do Leonardo são os chamados aceleradores, já disponíveis para algumas verticais de negócios como Manufatura e Varejo. Essa também é uma significativa mudança no modelo de implementação de soluções SAP. Dessa forma, protótipos de aplicações com o uso de recursos do Leonardo já estão em andamento. No caso do Brasil, esses modelos estão sendo prototipados no laboratório de inovação da empresa alemã localizado em São Leopoldo, no sul do País. Esse é um dos 19 labs espalhados em 16 países.
Outro fator que garantirá a adoção acelerada do Leonardo são casos de empresas que já estejam implementando projetos baseados em um dos pilares do sistema. Esse é o exemplo da Stara, indústria que atua no setor agrícola, também localizada no estado do Rio Grande do Sul. A partir da adoção da plataforma SAP em cloud, a empresa iniciou um protótipo de solução conjunta no laboratório em São Leopoldo. Hoje, o produto já está pronto e pode até ser considerado um primeiro cliente Leonardo no Brasil.
A solução está baseada em internet das coisas e voltada para o controle da produção a partir de sensores instalados em maquinários, além de dados coletados em campo, com o objetivo final de aumentar a produtividade do processo agrícola. O produto já está pronto e em fase de testes em clientes e parceiros. O próximo passo será estabelecer o modelo de negócios para que a solução entre em fase de comercialização, por se tratar de um produto desenhado e desenvolvido a quatro mãos.
Para Rafael Eduardo da Costa, IT Manager da Stara, é fundamental avançar com projetos de impacto, inovadores e disruptivos em um setor ainda muito conservador no uso de tecnologias emergentes, como o segmento de agronegócios. “Queremos ser líderes em IoT e promover a adoção dessa e de outras tecnologias emergentes, aculturando o segmento”. Nesse sentido, Rafael acredita que o Leonardo pode abrir um leque de possibilidades para que empresas do setor possam cobrir esse gap.
Salto tecnológico
O modelo de adoção do sistema Leonardo, por meio de componentes presentes em produtos de mercado, além da oferta em multicloud via parceiros como Google, Amazon e Microsoft, sem falar nos aceleradores de indústria, tendem a permitir que empresas possam dar um salto tecnológico na adoção de soluções disruptivas. Dessa forma, podem se tornar clientes Leonardo em curto espaço de tempo. Essa é a grande aposta da SAP.
Cristina Palmaka reforça que mesmo empresas que ainda não migraram para o HANA são potenciais usuários do sistema Leonardo. Afinal, qual a empresa hoje que não tem ou não quer ter um projeto de inovação? Para ela, mesmo as médias e pequenas podem ser candidatar a adquirir componentes do produto, no modelo cloud, mesmo que não possuam a plataforma SAP. Para impactar ainda mais esses clientes, a SAP anunciou durante o SAPPHIRE a oferta da sua solução voltada para esse segmento, o SAP Business One, no valor mensal de R$ 250,00, para empresas com até 25 usuários.
Para Palmaka, com o sistema Leonardo, fica mais clara a estratégia adotada pela SAP no passado, quando deu o primeiro passo ao lançar a arquitetura HANA, rumo à pavimentação de uma estrada que permitiria aos clientes trilhar o caminho da inovação. Com mais glamour do que o HANA, o Leonardo está sendo visto pela empresa e por muitos dos 150 clientes presentes ao evento como algo realmente diferenciado e oportuno no caminho da transformação. Agora é acompanhar os passos do produto e conferir a linha de chegada.
* Graça Sermoud viajou para Orlando a convite da SAP