Conhecimento em novas tecnologias e proficiências em gerência e comunicação são essenciais para o cumprimento da tarefa
por Rodrigo Pereira*
No momento em que a eficiência operacional se torna um tema prioritário nas organizações, as empresas conhecidas como Data Driven, ou seja, que tomam decisões baseadas em dados, estão em vantagem, apresentando resultados substancialmente superiores às demais. Isso porque, segundo um estudo realizado pela consultoria McKinsey, as empresas que utilizam dados para tomar decisões têm 23 vezes mais chances de adquirir novos clientes e seis vezes mais de retê-los, além de 19 vezes mais possibilidades de serem lucrativas em relação às que não se apoiam a este recurso.
Muitos CEOs sabem que o caminho do Data Driven é o mais seguro, por isso investem em projetos de dados e inteligência artificial (IA), seguidos de contratações de analistas e consultorias da área, entre outras medidas que, aparentemente, seguem o ‘protocolo de sucesso’, mas que, no fim, ainda não alcançaram os resultados desejados. E por que isso acontece?
São diversos os motivos para que esses projetos não saiam como esperado: a falta de uma estratégia clara para os projetos, os dados desestruturados, o time com pouco conhecimento e a falta de “patrocínio” da alta gestão, dentre outros fatores que podem resultar no fracasso. Ao longo de quase dez anos em projetos dessa natureza, um ponto que sempre chamou a minha atenção é a falta de lideranças engajadas e letradas em dados.
Vamos tentar exemplificar esse pensamento. O CEO de uma empresa é superpreparado e entende a importância e os benefícios dos projetos de dados e IA. Então, contrata um CDO (Chief Data Officer), que rapidamente monta um time competente responsável pelo desenvolvimento de uma arquitetura de dados eficiente e segura, tornando-a acessível e acionável para as respectivas áreas de negócios. Aparentemente tudo certo, não é? Mas, é aqui que começam os problemas.
Os gestores responsáveis pelas áreas de negócio não estão preparados para as mudanças de processo e, principalmente, de cultura. E, geralmente, é essa camada do management a responsável por conduzir junto à TI a implementação dos projetos que deveriam transformar a organização. Por não conhecerem e não acreditarem nessas iniciativas, eles não se engajam ou, quando se engajam, não conseguem dar a direção correta para que os resultados sejam alcançados.
Embora o desafio de identificar lideranças preparadas em termos de cultura Data Driven seja algo recorrente aos C-levels, algumas ações facilitam no reconhecimento profissional destes possíveis representantes. Dentre as principais, estão:
– Observar como lidam com métricas: pessoas que naturalmente usam dados para tomar decisões e acompanhar o desempenho de suas áreas são bons candidatos para liderar projetos de dados.
– Capacidade de resolução de problemas: profissionais que identificam rapidamente os problemas e buscam soluções criativas para resolvê-los são mais propensos a liderar projetos dessa natureza de forma eficaz.
– Atualizados em tendências de analytics e IA: os colaboradores que estudam constantemente esse tema não precisam saber desenvolver algoritmos ou outras aplicações, mas sim conectar as práticas e as soluções existentes com as dores do dia a dia.
– Experimentar e inovar: líderes que têm uma mentalidade de experimentação e estão dispostos a testar novas abordagens são grandes defensores desse tipo de projeto.
– Transparência e compartilhamento: os dados têm o poder de trazer a verdade à tona muito mais rápido. E pessoas que prezam por compartilhar os resultados chegarão a um nível de maturidade mais rapidamente que líderes centralizadores.
– Habilidade de comunicação: líderes com comunicação assertiva são mais propensos a engajar e transmitir a importância de uma cultura Data Driven para a equipe.
Além disso, no processo de contratação de novos líderes é essencial que esteja na pauta avaliar a capacidade analítica dos candidatos e verificar se possuem habilidades e experiência em gestão orientada por dados. Após passar por estas etapas, é interessante que o líder de equipe selecionado atue nos projetos mais relevantes da empresa. E, em paralelo a isso, se faz necessário o acompanhamento de sua gestão, contribuindo assim para a mudança cultural da empresa.
Outros exemplos de boa conduta podem ser levados em consideração neste processo, como investir em treinamento e recursos para que as equipes desenvolvam suas habilidades em análise de dados e liderança de equipes orientadas a dados, incentivar uma cultura de compartilhamento de informações, valorizar a transparência e a tomada de decisão baseada em dados e, por fim, manter o foco na estratégia e nos resultados.
Em suma, a cultura Data Driven é um caminho mais do que necessário para o sucesso das empresas e a liderança intermediária do negócio é uma peça-chave nesse processo. Afinal, são esses líderes que irão garantir a implementação de estratégias eficientes, tomar decisões com base em informações e disseminar uma cultura orientada a dados em toda a organização. Identificar essas lideranças, reconhecê-las e confiar a elas as principais iniciativas da empresa é fundamental para colher bons resultados nos projetos.
*Rodrigo Pereira é CEO da A3Data.